segunda-feira, 28 de março de 2011

Empresas Portuguesas em Saldos

É isto mesmo!

Se lerem o meu post anterior (Focar no que podemos controlar), comentarão muitos ao ler a introdução desse artigo, que realmente a maioria dos pequenos e micro-empresários Portugueses estão numa situação muito difícil.

É que a realidade das pequenas e micro-empresas, é de empresas com uma estrutura de capitais frágil, que necessitou de se endividar fortemente na banca para conseguir abrir, o que no contexto actual, representa uma pressão extrema sobre o negócio.


Neste momento, um investidor com uma forte base de capitais próprios, encontrará em Portugal dezenas de pequenos empresários dispostos a vender as suas empresas a preço de saldo, pois estão numa situação de liquidez crítica, e o sistema financeiro simplesmente não tem condições para assumir mais risco.

Têm negócios com EBITA positivo, mas sobretudo nos casos de empresas com poucos anos de vida, ainda estão a amortizar o investimento (na maioria dos casos financiado entre 5 a 7 anos), o que na situação actual é sufocante, e leva muitos deles, para não falhar as obrigações bancárias, a falhar com fornecedores, ou a reduzir custos essenciais para as suas empresas, levando-as à ruptura por excesso de desinvestimento.

São negócios que num contexto de estabilização poderão apresentar rentabilidades muito interessantes, e cuja principal fragilidade é o acesso ao capital. Pelo que esta oportunidade de saldos de bons negócios está também limitada à janela entre o momento actual, e o momento em que conseguirem liquidar as suas dívidas derivadas do investimento inicial.

Assim, podemos dizer que Portugal está em saldos!

O preço de uma falência para um micro-empresário em Portugal é muito caro, pois apesar da legislação comercial que limita o risco financeiro ao capital social da empresa, dificilmente se realizam transacções de vulto (sobretudo com bancos e estado, mas também com alguns fornecedores), sem que se imponha como condição que os sócios da empresa entrem como avalistas. O que significa, numa situação de ruptura, o pequeno empresário ser liminarmente condenado à miséria, pois não tem direito a qualquer apoio social, perde todos os seus bens, não pode ter empréstimos bancários por 5 anos após o encerramento do processo de falência periodo ao longo do qual verá ainda penhorado até um terço dos seus rendimentos para pagamento das dividas.

Não é portanto de se estranhar, que aqueles que perante a situação explosiva em que Portugal se encontra se vêm hoje no limite, e olham para o futuro com o receio de dias ainda piores, estejam quase dispostos a doar as cotas das suas sociedades para salvarem os seus tectos!

A grande oportunidade é para quem quiser aproveitar este momento para fazer grandes consolidações em segmentos do mercado muito fragmentados, conseguindo posicionar-se como líder à escala nacional a um custo minimizado.

O grande desafio, é conhecer bem os fundamentais do negócio em que se pretende investir, para que a avaliação da contabilidade da empresa alvo de compra seja feita de forma correcta, e minimizando os riscos para o investidor. Isto é ainda mais importante para investidores estrangeiros!

Sim, sei de diversos sectores em que se formaram grupos de investimento com parceiros Portugueses e capitais estrangeiros, e que hoje procuram em Portugal compras de saldo para a criação de um grupo empresarial, consolidando o sector em causa.

É pena que em Portugal o espírito associativo seja tão pobre, em que os pequenos empresários preferem falir a partilhar o poder e a decisão com alguém. Senão, poderia ser este o caminho alternativo! Quem já opera no mercado nacional, associar-se aos seus concorrentes indirectos (no consumo, em negócios de loja de bairro, o concorrente a 20km de distancia não concorre directamente pelos mesmos clientes, pelo que se poderiam associar). Aqui tornam-se fundamentais boas práticas de "corporate governance" que infelizmente também não abundam em Portugal.

Há também a assinalar um grupo reduzido de empresas que conheço, que têm aproveitado esta oportunidade para reorganizar as suas empresas, espremendo-lhes todos os custos supérfluos, e preparando-as para o momento em que chegar o novo ciclo de crescimento. Pena mis uma vez, que no contexto das micro e pequenas empresas, e sobretudo nos sectores ligados ao consumo (serviços e produtos), estas sejam uma minoria.

Em resumo e conclusão, como em todas as situações extremas, as dificuldades são muitas, mas elas também criam muitas oportunidades. Este é um momento que transforma mercados, e quem estiver atento, e conseguir mobilizar a capacidade financeira para isso, poderá fazer excelentes negócios em Portugal!

Também, será um momento decisivo para por à prova as reais competências de gestão dos responsáveis pelas empresas. Num contexto destes, purga-se também o trigo do joio, e valida-se quem efectivamente tem uma prática de gestão sustentável.

Afinal o país não vai desaparecer do mapa! Vai passar por um processo de ajuste de nível de vida violento que poderá levar anos, o que irá baixar o nível médio de vida da maioria dos Portugueses, mas as pessoas vão continuar a viver.
Face ao enorme número de leitores estrangeiros que este blog já mobiliza, deixo-vos uma referência de uma empresa que sei estar a fazer um bom trabalho no auxílio a investidores estrangeiros que procuram oportunidades em Portugal para compra de micro e pequenas empresas. Visitem http://www.pmeconsulting.biz/ e peçam uma primeira avaliação.

Abraço a todos,
Angatu!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Focar no que podemos controlar

No actual contexto político e económico Português, é normal que um pequeno empresário se sinta traído pelo seu país.


Fez um plano de negócio, projectou custos e receitas, endividou-se na banca, e neste momento vê a procura no seu pequeno negócio a cair, vê dificuldade em reduzir os custos pois planeou o negócio para uma determinada estrutura de funcionamento (horários, diversidade de serviços oferecidos, localização), vê os juros bancários a subir, vê os impostos a aumentar...

É sem dúvida um momento extremamente desafiante para se ser pequeno ou micro-empresário em Portugal.

O que podemos fazer? Eu creio que mais que o diagnóstico da situação, com que somos bombardeados todos os dias nos média, esta é a pergunta que se faz necessário responder, pelo que vos deixo aqui o meu contributo.

A primeira coisa a fazer é ter consciência de que não somos os únicos a viver esta situação. Muitas empresas em Portugal hoje vivem este drama, e por isso vemos empresas a fechar todos os dias. E quais as que sobrevivem? Dizia um amigo meu em 2005 numa determinada circunstancia da minha vida pessoal em que estava extremamente frustrado: "Não são os melhores nem os mais competentes que irão sobreviver a esta situação, serão sim os mais resistentes e que melhor se adaptarem as mudanças".

Ao ouvir isto, eu como um purista e perfeccionista, dizia: "para fazer mal, mais vale não fazer!"

Hoje digo-vos, que não só me lembro muito das palavras dele, como as entendo perfeitamente. Há coisas em tudo aquilo que fazemos que são obrigatórias, e outras que são acessórias. É verdade que muitas das coisas acessórias melhoram e acrescentam valor, mas em tempos de crise temos que eliminar tudo o que é acessório para conseguirmos continuar a produzir e sobreviver.

Portanto, vamos lá à minha receita!

O que não posso controlar?
- se o governo cai;
- se as taxas de juro (euribor) sobem;
- se o país consegue pagar a divida externa;
- se a Europa se desintegra;
- se os impostos sobem;
- se o desemprego nacional sobre;
- etc...

O que posso controlar:
- se as pessoas ao serviço na minha empresa mantêm um sorriso ao atender os nossos clientes mesmo em tempo de crise;
- se apesar da crise, asseguramos que aquilo que o cliente comprou continua a ser entregue dentro dos parâmetros de qualidade normais no mercado;
- se os meus clientes conhecem bem os meus serviços;
- se na zona onde estou instalado, a população conhece a minha empresa;
- que custos na vida da empresa não têm influencia directa na degradação dos parâmetros de qualidade dos serviços entregues;
- o que posso renegociar com fornecedores em termos de descontos adicionais ou aumento de prazos de pagamento;
- se existem fornecedores substitutos que estejam a oferecer melhores condições;
- se estou a diferenciar-me perante os meus concorrentes mais directos;
- se os clientes que atendo vão satisfeitos e me recomendam;
- etc...

Ou seja, o grande desafio passa por controlar aquilo que posso controlar, e evitar encher a minha cabeça com coisas que não posso controlar.

"O que está perdido, perdido está". Por isso, se o país continuar a afundar-se, o país entrará em bancarrota: o empresário ficará sem nada; o banco ficará com incobráveis; o estrado deixará de receber impostos e ainda terá que suportar os desempregados; os fornecedores ficarão aflitos pois não só perderam um cliente como ainda por cima ficaram com dívidas incobráveis...

Ninguém quer que o país rebente! É verdade que se está a esticar a corda para além dos limites, mas se o destino for o caos, a única coisa que podemos fazer é tentar que nós sejamos os que mais tempo demorarão a morrer (entenda-se falir). Quanto mais tempo conseguirmos manter o nosso negócio a operar em condições de qualidade, mais oportunidades teremos de ver a confiança dos consumidores reemergir, a economia voltar a crescer, o desemprego cair, e o nosso negócio voltar a florescer.

A pergunta na cabeça de muitos é: "pois mais eu acho que não aguento nem 6 meses".

E a isso respondo-vos: façam tudo hoje que for possível por reduzir os custos e maximizar a vossa receita e melhorar a vossa reputação junto dos clientes. Que os poucos que ainda compram, que escolham a vossa empresa. Que todas as despesas que não se traduzem numa mais-valia relevante no serviço ao cliente (ou seja, coisas que o cliente esteja disposto a pagar mais para ter), têm que ser cortadas.

E mesmo que tal custe aos funcionários, creio que todos preferem que a empresa continue a operar em condições mais "magras" do que simplesmente entre em colapso sob o peso de custos acessórios.

Talvez se surpreendam, e daqui a um ano ainda estejam vivos.

Que muitas empresas fecharão??? Não tenho a mínima dúvida, mas algumas sobreviverão. Que as vossas estejam entre elas, e aí, face à falta de oferta (pelo fecho dos vossos concorrentes), a vossa boa reputação, estarão prontos para agarrar todas as oportunidades que um mercado em recuperação representa.

Ninguém tem que ser 100% bom, pois de facto ninguém é. Todos de uma ou outra forma cometem erros.

Este é um facto inerente a sermos humanos! Todos erramos.

Por isso, temos apenas que nos concentrar em ser um pouquinho melhores que os nossos concorrentes mais directos. Se todas as empresas à vossa volta são "muito piores", e verificarem que estão a perder clientes porque são muito caros, cortem, cortem e cortem, em tudo o que for acessório, e coloquem-se a um preço, em que as pessoas pensem: por esta pequena diferença, não vale a pena arriscar. Prefiro ir aquele que tem uma excelente reputação.

Também não entrem numa guerra de preços, pois isso não favorece ninguém. Garantam apenas que o vosso preço reflecte a qualidade da vossa oferta, mas em alinhamento com a realidade em que estão inseridos.

O que acham? Enviem-me as vossas ideias e comentários!

Abraço,
Angatu