segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Espiral negativa: situação da economia Portuguesa

É reconhecido por muitos especialistas que mesmo os mais reconhecidos académicos não conseguem explicar na totalidade o que está a acontecer com a Europa, o Euro, e em particular Portugal.

É verdade que nenhuma estrutura ou organização pode viver sistematicamente acima das suas possibilidades, mas será que as respostas que hoje se estão a implementar serão as que menos sofrimento trarão ao povo?

Ponho esta pergunta pois aprendi que o princípio básico da gestão económica é assegurar o bem estar social. Ou seja, entendo isto no sentido de assegurar o máximo de bem estar à maioria da população.

E falando de Portugal, será que este é o caminho que melhor assegura este fim?

Tenho que dizer em justiça dos actuais governantes, que dificilmente alguém aceitaria que se implementassem outras soluções, sobretudo porque lamentavelmente na maioria das escolhas a tomar, não somos nós, povo soberano, que temos o poder de decisão.

Mas olhemos ao que se está a passar.

Gastou-se demais. Estado, empresas e pessoas.

Aprendia eu à meros 8 anos atrás, que o modelo de financiamento ideal para uma empresa era assegurar um rácio de 1 terço de capitais próprios para 2 terços de dívida bancária, pois neste equilíbrio assegurava-se em simultâneo uma base sólida de capitais para a operação da empresa associado a uma alavancagem financeira que permitiria à empresa investir em novas ofertas, novos mercados e ir progressivamente crescendo.

Isto, claro, no pressuposto de uma dinâmica de crescimento. Pois crescimento das empresas gera mais emprego, mais emprego gera mais rendimento disponível, mais rendimento disponível gera mais poupanças para mais investimento e mais consumo para manter a expansão do mercado.

Em resumo, os fundamentos do desenvolvimento económico passam pelo desenvolvimento do consumo, o qual cresce no pressuposto do aumento e distribuição da riquesa por via do emprego.

Hoje observamos um fenómeno em que a riquesa gerada simplesmente está a deixar de ser distribuida dentro do espaço de um estado, em que ela se acumula em produtos e derivados financeiros, nas mãos de uma minoria externa ao estado, que a acumula sem que ela seja reinvestida na geração de mais emprego e mais consumo, e dessa forma continue o ciclo virtuoso do crescimento económico.

Com este fenómeno, gera-se um ciclo em que o crescimento de um determinado estado só é possível perante a geração de dívida, pois o seu consumo (em todos os paises do mundo o objectivo do desenvolvimento económico) terá que ser financiado por aqueles que progressivamente vão extraindo destes países o capital sem que o reinvistam e reproduzam.

Eu esperaria que no processo de crescimento da União Europeia, este facto fosse reconhecido e assumido por todos.

Ouvi de um dos pais fundadores da União Europeia, que o princípio da sua criação e integração de estados como Portugal, era melhorar o nível de vida da generalidade da União, através do uniformizar o nível de vida entre os cidadãos europeus.

Assim, das duas uma:

  • ou o modelo é implementado de raíz de forma a defender e promover o emprego e crescimento das regiões mais deprimidas (como Portugal) - o que quem for intelectualmente honesto tem que reconhecer que não aconteceu, pois os países mais desenvolvidos intencionalmente criaram mecanismos para favorecer o crescimento das suas próprias economias à custa das pequenas economias;
  • ou é assumido que o modelo terá países consumidores e países produtores, e são implementados mecanismos de equilibrio financeiro através da injecção de verbas compensatórias nos países consumidores, pelos países produtores - o que era a assumpção de base dos país fundadores, mas que as actuais gerações de governantes não querem ou não têm a coragem de assumir.
A situação em que vivemos, só pode ser aceite como o interlúdio para um caminho de mais integração na união em que assumidamente um dos dois caminhos acima seja implementado.

Mas, sem saber-mos se efectivamente será para aí que caminharemos, apenas podemos constatar o presente.

E no presente, o que observamos é que face à crise financeira, os bancos reduziram a quantidade de dinheiro a circular na economia. E não há estatísticas que demonstrem o contrario, pois quando falo de economia, faldo daquela que gera a maioria do emprego e do consumo, os quais são a base do bem estar social.

Há claro financiamento para os projectos de expansão internacional de grandes empresas, mas esse dinheiro sendo disponibilizado em Portugal, efectivamente não gera consumo nem emprego significativo em Portugal.

Assim, temos que olhar a economia como a das pequenas empresas e das famílias. E a estes, os bancos têm vindo a fechar a torneira. 

Porque é que isto é motivo de preocupação? Porque associado a isto, muitas empresas que dependem do consumo vêm-se em dificuldades e reduzem as compensações variáveis aos seus funcionários, ou até, em casos extremos, encerram actividade e levam os seus funcionários ao desemprego.

Ora pessoas com menos dinheiro, pessoas desempregadas, pequenas empresas a fechar, gera-se um efeito bola de neve: menos consumo implica menos emprego, o qual implica menos empresas de consumo, o que implica a redução das empresas que vendem as empresas de consumo, e por aí adiante até às empresas que vendem equipamentos... é como se fosse uma máquina gigante de muitas rodas encaixadas umas nas outras a qual está a parar lentamente, e em que a paragem de umas peças apenas significa que outras se lhe seguirão.

As ramificações são inúmeras e incalculáveis. Estamos perante uma daquelas situações em que "o bater das asas de uma borboleta, provoca um tufão no outro lado do mundo".

Esta redução do acesso ao crédito aos particulares e pequenas empresas, foi o prelúdio do que estamos a sentir. Eu pessoalmente notei isso numa data muito específica e que vos posso apontar. Em Maio de 2009, observei uma quebra de receitas nos meus negócios fruto de alterações nas regras de concessão da banca absolutamente claro.

E não há directrizes governamentais que resolvam este problema.

Senão, observem: agora exigem aos bancos rácios de capital mais elevados, ou seja melhores relações entre o dinheiro que têm e o que emprestam. 

Quando este rácio é 100%, se eu tenho 1.000 euros, empresto os mesmos 1.000 euros. Hoje o que se passa é que com 1.000 euros, os bancos emprestam mais de 10.000 euros. É isto que se chama a alavancagem financeira, em que temos um rácio de capital de 10%. Ora os bancos trabalhavam com rácios de capital em alguns casos de 4%, e agora exigem-lhes 9%.

Como se resolve isto? De uma de duas maneiras: ou os donos dos bancos injectam mais dinheiro, ou os bancos reduzem rapidamente o volume de dinheiro que têm emprestado (carteira de crédito).

Hoje, o caminho é óbvio: a redução da carteira de crédito.

Se forem falar com algumas pessoas da banca, eles dizem que não têm culpa, eles querem emprestar, mas as pessoas e as empresas é que não oferecem garantias.

É que o banco só empresta a quem tem algo para dar como garantia. Ou capital, ou um bem de valor.

Voltando às pequenas empresas e familias, se hoje as pequenas empresas e as familias precisam de se endividar, em muitos casos é porque estão a passar dificuldades. Ora se estão a passar dificuldades, não ofereçem segurança aos bancos, pois apresentam um perfil de risco muito elevado.

Mesmo que os bancos mantivessem as regras de classificação de risco, só a evolução da situação económica já afastaria do mercado de crédito uma quantidade enorme de pequenas empresas que à 2 anos atrás eram consideradas boas para crédito.

Fechando esta ideia, todo o sistema se auto-alimenta num caminho de redução cada vez mais acelerada da actividade económica:
  • Menos actividade económica, mais risco nas empresas;
  • Mais risco nas empresas, menos acesso ao capital;
  • Menos acesso ao capital, menos emprego;
  • Menos emprego, menos consumo;
  • Menos consumo, menos actividade ecnómica e assim por diante (estou aqui a simplificar muito, mas creio que dá para entender).
Como é que se para este cíclo vicioso de redução da actividade económica... ou em bom Português, de empobrecimento, falência e fome?

Injectando dinheiro na economia de forma que produza emprego.

Muitos advogam que o caminho é substituir importações por consumo interno, e aumentar as exportações. Mas terá alguém pensado que dezenas de países nas mesmas circunstâncias que Portugal estão a tentar implementar exactamente a mesma receita?

E lembraram-se porventura que enquanto pequeno país, Portugal tem muito pouco a oferecer a países grandes consumidores pois os emergentes já perceberam que o poder económico está onde está o consumo, e todos se estão a fechar para minimizar a entrada de produtos de fornecedores extra-nacionais?

Esta foi uma outra das razões de crescimento da União Europeia. Criar um mercado integrado que tivesse poder negocial junto dos grandes mercados globais como os EUA, Brasil, Russia, Índia e China.

A solução? Em minha humilde opinião, emagrecer violentamente o estado o qual tem sido também um consumidor de recursos não reprodutivos, libertando capital para as pequenas empresas e famílias.

"Pois, isso é o que todos dizem! E mais detalhes, não há?"

Vou tentar:
  • Um dos caminhos seria impedir os bancos privados de financiar as entidades públicas, e assegurar o financiamento destas pelo banco central o qual terá o poder de controlo sob os níveis de endividamento por via da restrição de emissão de mais dívida aos organismos públicos;
  • Como consequência, seria fundamental esse banco central emitir mais moeda de forma a aumentar a disponibilidade de dinheiro;
  • Fruto desse aumento de disponibilidade monetária, libertar os bancos privados a curto prazo de obrigações em termos de rácios de capital, de forma a permitir o aliviar das avaliações de risco e restrições à emissão de crédito;
  • Implementar regulação que obrigue a um rácio equilibrado no funcionamento dos bancos em termos de tipo de empréstimos:
    • Limitar o acesso ao capital para construção (para empresas e privados);
    • Definir um volume de negócio mínimo para equipamentos (se há equipamentos a serem financiados, há empresas a modernizarem-se, a crescer e a gerar empregos);
    • Segmentar as obrigações de volume de negócio em empresas conforme as dimensões das empresas, de forma a assegurar que as verbas disponíveis não são todas sugadas em grandes operações não geradoras de emprego nacional.
  • Em simultâneo com a passagem das dívidas dos países para o banco central, reduzir a carga fiscal sobre as empresas de menor dimensão de forma a que acelerem a geração de emprego e o aumento dos rendimentos dos seus funcionários;
  • Entre as alterações bancárias e estatais, aumentar o rendimento disponível das famílias pois isso fará instantaneamente com que o consumo aumente e a economia começe a recuperar;
  • Por fim, colocar limitações rígidas às tarifas praticadas nos sectores não produtivos (tipicamente denominados de utilities), por via de um benchmark à escala europeia que uniformize os custos de contexto e normalize os rendimentos dessas empresas para que elas não se comportem como um sorvedouro de dinheiros nos países onde são monopolistas, dinheiro esse que muitas vezes serve para alimentar favores de políticos e a riquesa de uma minoria conivente e silenciosa que tudo faz por manter a situação: os accionistas, os gestores de todo dessas organizações e os políticos por elas sustentados (esta é infelizmente a situação em diversas empresas no sector das utilities em Portugal).
Mas tudo isto, estando integrado na união europeia, não depende da vontade dos governantes deste país.

Pelo que, imaginando que eu estaria no lugar deles, e desejava fazer o que acima refiro, na situação actual teria que fazer o que me mandam e ser um bom aluno, de forma a ganhar moral para influenciar as decisões e encostar à parede os países que enriqueceram à custa do nosso endividamento, de forma a assumirem que deixaram a situação chegar até aqui pois ganharam muito com ela, e que agora é hora de regressar ao equilibrio.

Mas, como acima dizia, não sabendo o que vai nas ideias dos nossos governantes, só posso contatar o que observo hoje, e o que vejo é um país a afundar-se de dia para dia.

O que vejo é todos os dias haver mais um amigo ou familiar que é empurrado para o desemprego, e que a cada semana vejo mais um profissional competente a sair do país à procura de novas oportunidades, e que a cada mês é mais um amigo que me diz estar tão bem no país para onde emigrou que não pondera a hipótese de voltar a viver em Portugal, que este será apenas o país para férias curtas de visita à família.

Em paralelo, vejo aumentar o rácio de quadros pouco qualificados que ficam no país, que cada vez mais são os Portugueses que querem viver sem esforço encostados ao estado, pois são os pouco qualificados e os acomodados que vão ficando, pois os ambiciosos e competentes não encontram dificuldades em ter sucesso.

E assim vejo também cada vez mais obscuro o futuro do país, pois serão esses pouco qualificados e esses acomodados que cada vez mais terão o poder do voto, e a capacidade de escolher os nossos futuros governantes, e naturalmente esolherão aqueles que lhes assegurarem de forma fácil aquilo que esses indivíduos não conseguiram por seu mérito.

Lamentavelmente vejo-me num contexto em que entre muitos dos meus amigos e conhecidos, permanecer em Portugal começa a ser associado a insucesso, e me vejo empurrado a abdicar de vez desta nação, e também eu procurar o meu estaço noutras paragens em que o meu talento e esforço sejam devidamente compensados e me permitam uma vida digna.

Entro portanto 2012 expectante. Dos cenários que acima aponto, qual se realizará? Encontrará Portugal este ano um rumo de melhoria da vida de quem com mérito próprio ainda cá quer viver, ou fecharei o ano também eu com os pés no estrangeiro?

Voto por Portugal, mas não nego nenhum cenário, nem entro mais em fundamentalismos nacionalistas.

Que este ano seja o que Deus quiser!

Votos de um 2012 cheio de saúde para todos, pois quem tem saúde, pode tudo!

1 abraço,
Angatú