quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Até onde aguentam as empresas

Ouvia estes dias nas notícias sobre Portugal:


- o desemprego bateu recordes históricos no 4º trimestre de 2010;

- a violência dos cortes do estado e o pânico nos consumidores está a levar o consumo privado a valores mínimos, tendo o ajustamento do mercado sido quase instantâneo sentido com grande violência no comercio;

- a população não para de envelhecer e contrair-se, levando a demografia a índices que comprometem qualquer crescimento sustentável
        PIB= Consumo Privado + Consumo Publico + Exportações - Importações
        Consumo Privado = Número de Consumidores x Consumo por pessoa
        Consumo por pessoa = rendimento disponível x (1-indice de poupança)
        (as minhas desculpas por alguma pequena incorrecção, mas esta não é a minha área de especialidade)

- a maioria das empresas exportadoras, aquelas que fazem o maior volume, não têm verdadeiros diferenciadores competitivos que lhes permita sustentar a sua posição num mercado cada vez mais globalizado, crescendo ou circunstancialmente ou em nichos que não fazem o volume que como país necessitamos para crescer saudavelmente por pelo menos uma década;

- os Portugueses consomem muito pouco de produção nacional, e esta também não para de cair nos bens essenciais;

- as condições de financiamento das pequenas e médias empresas têm vindo a degradar-se significativamente, sendo neste momento o crédito disponível escasso.

E nós ficamos a pensar, mas que desgraça!!! Será?


Há sempre duas perspectivas sobre estas notícias.

A primeira é que a situação em Portugal é de facto realmente muito grave. Sobretudo no comércio, onde as quebras no consumo são efectivamente violentas.

Mas se ainda estamos abertos ao público, poderemos ver o outro lado. Pensemos no mercado de acções. O segredo para grandes ganhos está em conseguir perceber quando um título que está em queda, está prestes a inverter essa tendência. Portanto comprar ou no fim da queda ou no início da subida é o grande desafio.

Alguém me dizia, ao ouvir estas péssimas notícias com que comecei o meu post de hoje, que estamos enquanto economia a chegar a este ponto de inversão.

Daí, se enquanto empresas tivermos condições para manter as portas abertas ao público mais uns meses, e tivermos conseguido manter um bom padrão de serviço e qualidade, provavelmente estaremos a caminho de finalmente poder respirar um pouco de uma queda de mercado que já vem desde 2006 sempre a acentuar-se.

A grande questão na cabeça de muitos é que neste momento já estão com resultados negativos, muitos já se estão a financiar em fornecedores para aguentar, e perguntam-se até onde vai o consumo contrair, quanto mais vão observar de reduções de facturação e por quanto mais tempo, e até que ponto conseguirão sobreviver. Já há muitos a fechar, e daí os fornecedores ou fecham mais as condições de pagamento para se proteger (caso tenham uma dimensão de mercado que lhes permita isso), ou arriscam-se a que com a quebra das empresas de consumo, haja um efeito dominó e fechem empresas em sequência nos segmentos B2B.

Com algumas economias do centro da Europa a dar sinais muito positivos, na medida em que Portugal exporta muito para essas economias, devermos começar a observar um crescimento das encomendas ao longo do primeiro semestre de 2011, que se traduzirá efectivamente em resultados no segundo semestre, o que deverá fazer com que Portugal feche 2011 efectivamente com resultados negativos, mas já numa rota de crescimento que deverá trazer o dinheiro ao bolso dos consumidores em 2012 e também ai finalmente o aliviar das condições das empresas de consumo.

Neste processo teremos, em minha opinião, a inversão da curva, e associado a isso, a concretização mais violenta da lei de Darwin: a selecção natural.

Isto levará a resistência e capacidade de adaptação das empresas para além de todos os limites, mas deixa-lhes a provocação de que se conseguirem, poderem apreciar o prémio de reinar num mercado em recuperação, com menos concorrentes que tinha à alguns anos atrás, e vir a apreciar um ciclo de alguns anos de crescimento. Claro, se forem um dos sobreviventes.

Se eu estiver errado e este ano não foi o ano da inversão da curva............ ai Portugal onde vais tu parar...... o futuro será negro, pois do que observo a estrutura económica e social está a chegar aos seus limites de resistência.

Claro que no meio disto tudo, criam-se excelentes oportunidades para quem tiver muito capital líquido para investir! Pois com o sufoco da quebra do consumo e pressão dos encargos bancários, há imensas empresas interessantes à beira da ruptura apenas por problemas de tesouraria.

Bem, uma coisa é certa: os próximos meses serão de muitas decisões. Que haja uma visão de país que nos conduza a todos num caminho de sustentabilidade, que olhando para a equação do PIB, não é difícil para qualquer leigo perceber que terá obrigatoriamente que passar por:
- aumento do consumo privado mas sem recurso a dívida externa;
- continuidade da contracção do consumo público para controlo do endividamento externo;
- continuação da aposta nas exportações como alavanca a um acelerar do crescimento;
- aumento da poupança nacional com vista a alavancar mais consumo privado sem que tenhamos endividamento externo;
- aumento da produção nacional, para suster um crescimento do consumo e uma redução das importações;
- ajudava um forte crescimento demográfico para termos mais cabeças a consumir e ser mais interessante produzir no mercado interno.

Com tudo isto, aqueles que como eu possuem empresas de comércio ou serviços para consumidores, poderiam efectivamente acreditar que haverá condições para evitar a emigração e envelhecer em Portugal e manter um negócio saudável.

O que acham?

Abraço e boas leituras!
Angatu

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