No actual contexto político e económico Português, é normal que um pequeno empresário se sinta traído pelo seu país.
Fez um plano de negócio, projectou custos e receitas, endividou-se na banca, e neste momento vê a procura no seu pequeno negócio a cair, vê dificuldade em reduzir os custos pois planeou o negócio para uma determinada estrutura de funcionamento (horários, diversidade de serviços oferecidos, localização), vê os juros bancários a subir, vê os impostos a aumentar...
É sem dúvida um momento extremamente desafiante para se ser pequeno ou micro-empresário em Portugal.
O que podemos fazer? Eu creio que mais que o diagnóstico da situação, com que somos bombardeados todos os dias nos média, esta é a pergunta que se faz necessário responder, pelo que vos deixo aqui o meu contributo.
A primeira coisa a fazer é ter consciência de que não somos os únicos a viver esta situação. Muitas empresas em Portugal hoje vivem este drama, e por isso vemos empresas a fechar todos os dias. E quais as que sobrevivem? Dizia um amigo meu em 2005 numa determinada circunstancia da minha vida pessoal em que estava extremamente frustrado: "Não são os melhores nem os mais competentes que irão sobreviver a esta situação, serão sim os mais resistentes e que melhor se adaptarem as mudanças".
Ao ouvir isto, eu como um purista e perfeccionista, dizia: "para fazer mal, mais vale não fazer!"
Hoje digo-vos, que não só me lembro muito das palavras dele, como as entendo perfeitamente. Há coisas em tudo aquilo que fazemos que são obrigatórias, e outras que são acessórias. É verdade que muitas das coisas acessórias melhoram e acrescentam valor, mas em tempos de crise temos que eliminar tudo o que é acessório para conseguirmos continuar a produzir e sobreviver.
Portanto, vamos lá à minha receita!
O que não posso controlar?
- se o governo cai;
- se as taxas de juro (euribor) sobem;
- se o país consegue pagar a divida externa;
- se a Europa se desintegra;
- se os impostos sobem;
- se o desemprego nacional sobre;
- etc...
O que posso controlar:
- se as pessoas ao serviço na minha empresa mantêm um sorriso ao atender os nossos clientes mesmo em tempo de crise;
- se apesar da crise, asseguramos que aquilo que o cliente comprou continua a ser entregue dentro dos parâmetros de qualidade normais no mercado;
- se os meus clientes conhecem bem os meus serviços;
- se na zona onde estou instalado, a população conhece a minha empresa;
- que custos na vida da empresa não têm influencia directa na degradação dos parâmetros de qualidade dos serviços entregues;
- o que posso renegociar com fornecedores em termos de descontos adicionais ou aumento de prazos de pagamento;
- se existem fornecedores substitutos que estejam a oferecer melhores condições;
- se estou a diferenciar-me perante os meus concorrentes mais directos;
- se os clientes que atendo vão satisfeitos e me recomendam;
- etc...
Ou seja, o grande desafio passa por controlar aquilo que posso controlar, e evitar encher a minha cabeça com coisas que não posso controlar.
"O que está perdido, perdido está". Por isso, se o país continuar a afundar-se, o país entrará em bancarrota: o empresário ficará sem nada; o banco ficará com incobráveis; o estrado deixará de receber impostos e ainda terá que suportar os desempregados; os fornecedores ficarão aflitos pois não só perderam um cliente como ainda por cima ficaram com dívidas incobráveis...
Ninguém quer que o país rebente! É verdade que se está a esticar a corda para além dos limites, mas se o destino for o caos, a única coisa que podemos fazer é tentar que nós sejamos os que mais tempo demorarão a morrer (entenda-se falir). Quanto mais tempo conseguirmos manter o nosso negócio a operar em condições de qualidade, mais oportunidades teremos de ver a confiança dos consumidores reemergir, a economia voltar a crescer, o desemprego cair, e o nosso negócio voltar a florescer.
A pergunta na cabeça de muitos é: "pois mais eu acho que não aguento nem 6 meses".
E a isso respondo-vos: façam tudo hoje que for possível por reduzir os custos e maximizar a vossa receita e melhorar a vossa reputação junto dos clientes. Que os poucos que ainda compram, que escolham a vossa empresa. Que todas as despesas que não se traduzem numa mais-valia relevante no serviço ao cliente (ou seja, coisas que o cliente esteja disposto a pagar mais para ter), têm que ser cortadas.
E mesmo que tal custe aos funcionários, creio que todos preferem que a empresa continue a operar em condições mais "magras" do que simplesmente entre em colapso sob o peso de custos acessórios.
Talvez se surpreendam, e daqui a um ano ainda estejam vivos.
Que muitas empresas fecharão??? Não tenho a mínima dúvida, mas algumas sobreviverão. Que as vossas estejam entre elas, e aí, face à falta de oferta (pelo fecho dos vossos concorrentes), a vossa boa reputação, estarão prontos para agarrar todas as oportunidades que um mercado em recuperação representa.
Ninguém tem que ser 100% bom, pois de facto ninguém é. Todos de uma ou outra forma cometem erros.
Este é um facto inerente a sermos humanos! Todos erramos.
Por isso, temos apenas que nos concentrar em ser um pouquinho melhores que os nossos concorrentes mais directos. Se todas as empresas à vossa volta são "muito piores", e verificarem que estão a perder clientes porque são muito caros, cortem, cortem e cortem, em tudo o que for acessório, e coloquem-se a um preço, em que as pessoas pensem: por esta pequena diferença, não vale a pena arriscar. Prefiro ir aquele que tem uma excelente reputação.
Também não entrem numa guerra de preços, pois isso não favorece ninguém. Garantam apenas que o vosso preço reflecte a qualidade da vossa oferta, mas em alinhamento com a realidade em que estão inseridos.
O que acham? Enviem-me as vossas ideias e comentários!
Abraço,
Angatu
Ter o próprio negócio é cada vez mais uma opção para aqueles que não conseguem encontrar opções satisfatórias no mercado de trabalho. Face à inexperiência, muitos começam por procurar oportunidades em franchising. Neste blog partilho a minha experiência enquanto franchisado, franchisador e observador atento das redes de franchising em Portugal, em contraponto com a minha experiência enquanto profissional em multinacionais de referência.
quarta-feira, 23 de março de 2011
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