E surpresa, surpresa!!!
Descobri que em muito do Portugal, não há crise! Ou a haver, ela é muito subtil.
De facto este país vive duas realidades muito distintas. Uma, a realidade do sector privado desprotegido, a outra a realidade do sector empresarial protegido (público e privado).
Andei nestes meses a realizar projectos em diversas organizações, e fiquei chocado com o desperdício e leviandade com que nessas empresas se gerem os orçamentos.
Vê-se algumas pessoas "chateadas" por sofrerem "alguma" redução de rendimento, mas não se pode dizer que lhes ponha o comer na mesa em causa. Estamos a falar de pessoas, que "este ano não poderão fazer férias no estrangeiro", ou que não vão poder mudar este ano de carro como tinham previsto.
Mas que no essencial, o que se verifica é que têm um rendimento em média superior a alguém com as mesmas qualificações no sector privado concorrencial.
E de que empresas estou eu a falar? Empresas de energia e outras utilities, bancos centrais e banco público.
É de facto chocante o contraste.
Nas últimas semanas tenho passado por lá a realizar projectos, e parece que entrei num outro Portugal.
Porque é que o bom nível de rendimento e benefícios oferecidos por essas empresas aos seus funcionários são uma coisa má? Porque todo o restante país é que paga as contas!!!
Se estas empresas não fossem geridas pelo estado, ou não estivessem protegidas, provavelmente muitas das pessoas que lá trabalham, teriam que provar mais o seu valor para merecer os salários generosos que lhes são pagos, e usufruir de todos os beneficios que neste momento têm.
Em algumas destas empresas existem por exemplo ginásios internos a um preço completamente desajustado dos custos de mercado. Este ponto em particular chamou-me a atenção na medida em que uma das áreas de negócio em que investi foi no fitness.
Além destas pessoas terem salários médios acima do que considero normal para as suas funções e níveis de competência, podem consumir produtos e serviços subsidiados pelas organizações em que trabalham, o que alavanca o seu diferencial de rendimento ainda mais para cima do que teriam num sector privado. Os subsídios a serviços de saúde, apoio à educação, horários de trabalho mais reduzidos, mais dias de férias...
Efectivamente, embora muitas destas coisas não venham no recibo de vencimento, elas representam dinheiro.
Por isso, me choca, pois eu estou do lado de quem no final paga as contas.
Este é um dos pontos que se o estado não colocar mão, nunca permitirão que o país se torne mais equilibrado.
Lembro-me de ouvir dizer pessoas, hoje todas com mais de 60 anos, que no passado a opção era:
- trabalha no privado, e arrisca-se a conseguir ganhar mais dinheiro;
- ou trabalha no público, onde sabes que vais ganhar menos e terás uma evolução de carreira mais lenta, mas onde terás segurança no trabalho.
Este país tem muita coisa a aprender e mudar. E a primeira chama-se ÉTICA, também conhecida como ter vergonha na cara.
Abraço,
Angatú
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