sábado, 22 de dezembro de 2012

Ética e comportamentos pessoais

Num tempo em que se vivem tantas dificuldades, em que tantas vezes falta o norte, quando tudo pareçe virado do avesso, mais que nunca, os valores pessoais de cada um e em particular a ética pessoal e profissional, deveriam servir de guia aos comportamentos que exibimos, tornando-se força no contexto profissional e empresarial.

Seria de esperar, de acordo com o referido em muitos estudos, que as entidades e as pessoas éticamente mais correctas, observem um crescimento de procura em tempos de dificuldade, fruto da confiança que dão aos seus potenciais clientes ou empregadores.

Infelizmente constato que neste caso, como em tantos outros que conheço, o comportamento do mercado Português contraria as tendencias observadas na maioria dos países desenvolvidos.

Ou seja, também aqui, Portugal exibe um comportamento muito próximo de países de terceiro mundo.

Observamos numa parte substancial da população um comportamento mesquinho e desconfiado, típico de pessoas pouco instruidas.

Lamentavelmente tenho que reconhecer que a maioria das pessoas que tenho encontrado nos meus mais de 5 anos de empreendedorismo são oportunistas, egoistas, mercenárias, infiéis, e não reconhecem nem valorizam valores como a ética, a lealdade, a qualidade de serviço e atendimento, ou se preocupam com a sua honra e palavra.

São todos assim? Felizmente não. Também encontrei pessoas boas.

Mas a estratégia de um negócio, as práticas de gestão e o seu posicionamento não pode ser definido pelo comportamento de uma minoria, a menos que essa minoria em termos de consumidores representasse um nicho com dimensão e densidade suficiente para sustentar um negócio que lhe seja dirigido.

Com tudo o que se tem vindo a passar em Portugal, o que tenho observado é o desmoronar de muitas relações de consumo, de relações empresariais e de relações de trabalho.

Daí tenho que concluir que de facto Portugal é um mercado fértil para negocios oportunistas de ganhos rapidos, e de baixos investimentos, mas não apresenta condições (financeiras, legais ou humanas) favoráveis á construção de negócios mais estruturados.

Naturalmente quando escrevo os meus textos, há que enquadrá-los no contexto em que me insiro: serviços para o consumidor final.

Vejo-me portando neste momento com sentimentos mistos: desapontado pelas imensas decepções que sofri nestes anos, e feliz pelas agradáveis surpresas que tenho recebido.

Lamento apenas que essas agradáveis surpresas não sejam a regra, e não sejam suficientes para sustentar uma estratégia de negócio.

Quais as minhas escolhas para o futuro? Não deixarei de ser quem sou: crente que por natureza todas as pessoas são boas, e que apenas necessitam de um ambiente propicio para realizar o seu potencial e ser o melhor que puderem ser. Mas não consigo mais considerar que Portugal seja um bom mercado para fazer negócios estruturados, e de perspectiva de médio longo prazo.

No final, cada vez mais vinco nas minhas convicções as sábias palavras das minhas avós, cuja sabedoria popular aqui vos deixo:
  • os actos ficam com quem os pratica;
  • as palavras de nada valem, sem actos que as confirmem;
  • que as palavras que disseres sejam melhores que o teu silêncio;
  • aquilo que dermos aos outros, receberemos de volta por outra via.

No final, uma coisa hoje compreendo com muita clareza: educação e estudo claramente não são a mesma coisa. Não há títulos, berços de ouro, diplomas ou qualquer outra coisa que garanta uma boa educação. Uma boa educação apenas se obtém pelos ensinamentos que recebemos em casa dos nossos pais.

Tenho a dizer que Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer até se poder dizer que têm um povo com um nível de educação de primeiro mundo.

Apesar de Portugal hoje ser um país membro da união europeia, há que considerar que em termos de investimentos no sector do consumo, Portugal ainda apresenta comportamentos de um país em vias de desenvolvimento.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Reconhecimento de receitas, avaliação de empresas e burlas em Franchising (e não só)

A história de hoje, deixará confusa a mente de todos os que tiverem menos bases de finanças.

Mas vou tentar simplificar para ajudar a perceber porque é que algumas empresas aparentemente sólidas financeiramente e de grande dimensão, fecham as portas de repende por falta de dinheiro para cumprir as mais basicas obrigações.

Tem tudo a ver com a filosofia de gestão, e também em minha opinião, com a intenção de manipular a contabilidade para dar uma melhor imagem de um negócio do que a realidade demonstra.

No verão de 2012 houve diversas notícias em Portugal acerca de redes de clinicas dentárias que fecham de um dia para o outro, as quais os conumidores consideravam ser uma rede sólida. Houve também no final da década de 90 e ano 2000 e seguintes vários casos de empresas de grande dimensão nas áreas dos serviços que passaram por sérias dificuldades quando pouco tempo antes apresnetavam lucros brutais, sem que o comum cidadão percebesse porquê.

Não foram só os consumidores que achavam estas empresas sólidas, muitos bancos também acharam.

Para já a base está na má fé dos seus gestores que pretendiam enriquecer rapidamente, e que não olharam a meios para recolherem o máximo de dinheiro no mínimo tempo possível (alguns iluminados por aquela ideia americana de fazer 1 milhão antes dos 40 anos de idade).

Mas na minha opinião, a base começou com os critérios contabilísticos adoptados, os quais eram até à bem pouco tempo considerados como aceitáveis em Portugal, mas que vão completamente contra as boas práticas contabilisticas (por exemplo inscritas nas normas GAAP dos EUA - Generally Accepted Accounting Principles).

Tudo tem a ver com o que se considera ser a receita de uma empresa.
Isto é muito importante, pois num plano de negócio, é sempre mais fácil estimar os custos do que as receitas, e é a estimativa das receitas que representa o maior risco no investimento.

Quando vendemos um bem ou um serviço, quando é que temos uma receita?
  1. é quando o cliente encomenda?
  2. é quando o cliente paga?
  3. é quando o fornecedor inicia a entrega?
  4. é quando o fornecedor conclui a entrega?
  5. é quando o cliente reconhece ter recebido o bem ou serviço?
Do caso de um produto de consumo, numa loja tradicional, muitas destas coisas acontecem em simultâneo. O cliente pede o produto, recebe o produto, o cliente observa o produto para confirmar que é o que quer, depois paga e sai da loja.
Aqui não há dúvidas, temos dinheiro em caixa, e nesse mesmo momento a empresa pode reconhecer a receita respectiva.

Vamos complicar um pouco, e imaginar uma empresa de venda de equipamentos, que faz entregas ao domicilio aos clientes. O cliente até pode pagar uma parte antes, e outra na entrega, ou até pagar a 30/60/90dias ou mais. Mas o processo, em empresas organizadas, será: o cliente encomenda, posteriormente o produto é entregue nas instalações do cliente, e no momento da entrega o cliente assina um "auto de recebimento" o qual formaliza o seu reconhecimento de que o produto solicitado foi entregue nas condições desejadas.
Esta última formalidade é importante, e boa prática em empresas organizadas, porque pode por exemplo acontecer que durante o transporte o produto se danifique, e que quando o cliente o recebe, o mesmo não esteja em condições, e por isso o cliente se recuse a pagá-lo.
Assim, independentemente do momento em que ocorre o pagamento, a receita da empresa só deve ser registada na contabilidade quando o cliente reconhece que o produto foi entregue. Ou seja, neste momento a empresa reconhece o direito de receber o dinheiro correspondente, independentemente de o cliente o pagar logo ou não.

Daqui percebemos, que a questão contabilística de definir em que condições e em que momento uma receita é reconhecida como tal, não é igual para todas as empresas e para todas as circunstâncias.

Vamos complicar mais, e usar o exemplo de uma empresa de programação informática, que faz uma proposta para criar um novo programa para uma sua empresa cliente. Este programa deverá levar 2 anos a desenvolver. É acordado que o cliente paga uma parte com a adjudicação, tem pagamentos parcelares ao longo do projecto, e tem um pagamento final com a conclusão. Quando deve ser reconhecido pela empresa fornecedora a receita? Quando recebe a encomends? Quando recebe cada pagamento?

Para empresas de prestação de serviços que se arrastam pelo tempo, deveriam haver dois planos paralelos logo definidos de principio: um plano de aceitações parciais pelo cliente, e um plano de pagamentos.

A maioria das empresas apenas se preocupa com o segundo (o plano de pagamentos), e muitas acabam por se ver em tribunal a discutir com clientes que dizem não ter recebido o que encomendaram, e por isso não pagam.

Com estes exemplos, pretendo ilustrar alguns principios contabilisticos que reflectem as falhas na forma como a contabilidade destas empresas é feita (falhas que não sendo completamente ilegais em Portugal, na minha opinião reflectem uma de duas coisas: incompetência, ou má fé - qualquer uma das duas razões para nos afastar desse tipo de empresas).

Assim, vamos acentar algumas definições:
  • Receita: é um valor relativo a bens ou serviços efectivamente prestados pela empresa e aceites pelos clientes. Tipicamente formaliza-se uma receita com a emissão de uma factura.
  • Proveitos diferidos: tipicamente relacionam-se com verbas já recebidas pela empresa a título de adiantamento por produtos ou serviços a entregar no futuro. Este valor aparece no passivo das empresas, u seja o valor que as empresas devem a outros;
  • Dívidas de clientes: tratam-se de valores relativos a Receitas já declaradas, as quais ainda não foram pagas (facturas não liquidadas). Este valor aparece no activo das empresas, ou seja valores que pertencem às empresas.
Imaginemos o exemplo da empresa de software que se propôs fazer o programa ao longo de 2 anos.

O que deveria ter acontecido na sua contabilidade seria:
  • se recebeu dinheiro a título de adiantamento, declarar esse dinheiro como proveitos diferidos (aparece no passivo, pois eu sei que é chato, mas é a realidade do negócio - o dinheiro ainda não é da empresa, a empresa é apenas depositária dele, e declará-lo desta forma previne a tentação de o gastar - o que não é aconselhável, visto que ainda não "pertençe" à empresa).
  • no momento em que colocou um consultor a trabalhar no cliente, reconhecer TODOS os custos incorridos no exacto momento em que eles ocorrem (pode com isto acontecer que em determinando momento a empresa apresente prejuizos derivado deste projecto, pois já começou a reconhecer custos, e ainda não reconheceu receitas);
  • ao longo do projeto, deverá ter acordado com o cliente que o mesmo será realizado em fases, de forma a poder obter aceitações provisórias (sendo inclusive boa pratica estar logo no contrato de fornecimento uma checklist com as condições de aceitação), pelo que a cada fase deverá corresponder um valor monetário, o qual será reconhecido pelo cliente como devido com a conclusão dessa fase, e poderá então ser reconhecido como receita).
  • No final do projecto, com todos os serviços entregues e aceites pelo cliente, está reconhecida a totalidade da receita, e a totalidade dos custos.
Aprende-se nas primeiras disciplinas de finanças, que a contabilidade deve espelhar a realidade operacional da empresa. Por isso este exercício, espelha a realidade da empresa.

Agora imaginemos um gestor burlão que quer enriquecer rapidamente. Pegando no mesmo exemplo da empresa de software, o que muitos fazer é no momento em que recebem a encomenda do cliente, reconhecer fiscalmente a receita!
Vejamos o impacto disto na avaliação da empresa. A empresa apresenta lucros brutais pois declarou uma receita para a qual não teve ainda quaisquer custos, e para além dos valores de adiantamentos não aparecerem no seu passivo, ainda terá um valor de dívidas de clientes no seu actuvo, inflacionando os seus capitais próprios e dando uma imagem de solidez financeira completamente falsa.

Se em vez de um projecto imaginarmos centenas ou milhares de pequenos projectos, podemos estar a valar de números muito grandes.

Com esta "adulteração" criativa das contas, que alguém me disse não ser ilegal em portugal ("poderá ser questionável, mas não ilegal" disseram-me), este gestor apresenta-se com uma tal robustez financeira que lhe permite conseguir facilmente grandes empréstimos junto da banca, ou acordar prazos e condições de pagamento com fornecedores que lhe permitam fornecer-se sem pagar.

Supostamente a legislação em termos de contabilidade num país deveria ter como objectivo não só a colecta de impostos, mas também o assegurar de um clima de confiança e transparência no relacionamento entre empresas, com base em regras claras que permitam uma correcta avaliação entre as empresas e logo também promover assim uma forte base de confiança entre instituiçõs privadas, bancos, investidores e clientes.

Pergunto. Será que podemos tirar um paralelo do meu exemplo da empresa de software para uma clínica dentária? Se sim, então aqui poderá estar uma explicação para o que aconteceu nessas clínicas.

Conclusão, se lhe apresentam um negócio, peça para lhe prepararem junto com um plano de negócio uma somulação de demonstração de resultados e balanço para os 3 primeiros anos.
Se quem lhe quer vender o negócio demonstrar esta criatividade contabilística, pense nos seus valores éticos antes de entrar, pois negócios milionários e de grandes ganhos rápidos, habitualmente têm algum senão.

1 abraço!
Angatú

domingo, 5 de agosto de 2012

Crise? Só para alguns

Fruto do meu desalento com a evolução da economia, e da minha decepção com o contexto em que o estado Português asfixia e assanina o empreendedorismo, decidi retornar à minha carreira profissional em consoltoria.

E surpresa, surpresa!!!
Descobri que em muito do Portugal, não há crise! Ou a haver, ela é muito subtil.

De facto este país vive duas realidades muito distintas. Uma, a realidade do sector privado desprotegido, a outra a realidade do sector empresarial protegido (público e privado).
Andei nestes meses a realizar projectos em diversas organizações, e fiquei chocado com o desperdício e leviandade com que nessas empresas se gerem os orçamentos.

Vê-se algumas pessoas "chateadas" por sofrerem "alguma" redução de rendimento, mas não se pode dizer que lhes ponha o comer na mesa em causa. Estamos a falar de pessoas, que "este ano não poderão fazer férias no estrangeiro", ou que não vão poder mudar este ano de carro como tinham previsto.

Mas que no essencial, o que se verifica é que têm um rendimento em média superior a alguém com as mesmas qualificações no sector privado concorrencial.

E de que empresas estou eu a falar? Empresas de energia e outras utilities, bancos centrais e banco público.
É de facto chocante o contraste.

Nas últimas semanas tenho passado por lá a realizar projectos, e parece que entrei num outro Portugal.

Porque é que o bom nível de rendimento e benefícios oferecidos por essas empresas aos seus funcionários são uma coisa má? Porque todo o restante país é que paga as contas!!!

Se estas empresas não fossem geridas pelo estado, ou não estivessem protegidas, provavelmente muitas das pessoas que lá trabalham, teriam que provar mais o seu valor para merecer os salários generosos que lhes são pagos, e usufruir de todos os beneficios que neste momento têm.

Em algumas destas empresas existem por exemplo ginásios internos a um preço completamente desajustado dos custos de mercado. Este ponto em particular chamou-me a atenção na medida em que uma das áreas de negócio em que investi foi no fitness.

Além destas pessoas terem salários médios acima do que considero normal para as suas funções e níveis de competência, podem consumir produtos e serviços subsidiados pelas organizações em que trabalham, o que alavanca o seu diferencial de rendimento ainda mais para cima do que teriam num sector privado. Os subsídios a serviços de saúde, apoio à educação, horários de trabalho mais reduzidos, mais dias de férias...

Efectivamente, embora muitas destas coisas não venham no recibo de vencimento, elas representam dinheiro.

Por isso, me choca, pois eu estou do lado de quem no final paga as contas.

Este é um dos pontos que se o estado não colocar mão, nunca permitirão que o país se torne mais equilibrado.

Lembro-me de ouvir dizer pessoas, hoje todas com mais de 60 anos, que no passado a opção era:
  • trabalha no privado, e arrisca-se a conseguir ganhar mais dinheiro;
  • ou trabalha no público, onde sabes que vais ganhar menos e terás uma evolução de carreira mais lenta, mas onde terás segurança no trabalho.
Hoje a opção é, trabalha numa das empresas protegidas, e tem o melhor de dois mundos: os melhores rendimentos, e a maior segurança no trabalho. E aproveita para viver a vida, pois o resto do país paga!!!

Este país tem muita coisa a aprender e mudar. E a primeira chama-se ÉTICA, também conhecida como ter vergonha na cara.

Abraço,
Angatú

sábado, 12 de maio de 2012

Desabafo sobre o peso do estado (impostos) na vida das pequenas empresas em Portugal

Fui multado! Senti-me abandonado, roubado, violado. Estou revoltado...

Fora do contexto habitual das minhas publicações, mas tinha que deixar escrito para memória futura tudo o que me passou pela cabeça hoje.

Em resumo, perdi a cabeça e fui ameaçado de prisão por um agente da autoridade.

Quem me conheçe, sabe bem que sou uma pessoa muito tranquila e tolerante, mas acho que hoje (como dizem os nossos irmãos brasileiros), o saco encheu!

Muito tenho escrito sobre a realidade do pequeno empreendedor em Portugal, e muito tenho escrito sobre a minha fé no futuro de Portugal. Mas começo a ficar sem argumentos para defender mais o actual estado de coisas.

São demasiadas provocações em muito pouco tempo.

Ora vamos ao contexto. Nos últimos 2 anos em Portugal:
  • O IVA subiu, em alguns sectores 283% !!! Sim, não me enganei nas contas. Um imposto directo sobre o consumo que sobe 283%. Acham normal em qualquer país desenvolvido???
  • Mas de isso não bastasse, subiram também as taxas imputáveis às empresas (taxas municipais de licenciamentos e outras);
  • Subiu o custo da água (no meu caso, por alteração legislativa tivemos um aumento de 90% relativo à criação de uma taxa de resíduos de valor equivalente a 90% do valor do meu custo de consumo de águas);
  • Subiu a electricidade (na medida em que tenho um negócio Isento de IVA, logo não posso deduzir o IVA pago nos fornecimentos) o que derivado do aumento do IVA representou um aumento de 19%;
  • O crédito bancário reduziu-se em mais de 60% (na medida em que nos meus negócios vendo bens e serviços de balor médio entre poucas centenas e alguns milhares de Euros, a perda desta alavancagem por via da alteração dos critérios de valiação de risco dos bancos por um lado, e da regulamentação por outro, implicou uma perda de receitas na ordem dos 2 dígitos);
  • Os custos do crédito bancário à minha empresa subiram 78% !!! Sim, também não me enganei. Quando abri a minha empresa em 2007, sendo uma start-up sem qualquer histórico bancário, e logo de risco elevado pagava um juro efectivo (Euribor + spread) na ordem dos 4,5%, enquanto hoje, para financiar a minha tesouraria e manter a empresa neste período de crise na expectativa de um crescimento futuro, só de spread os bancos estão a pedir na ordem 7%, o que somado a uma Euribor de 1%, dá um juro efectivo na ordem dos 8%;
  • Houve outros impostos que subiram, que não me afectando directamente, afectam indirectamente, como sejam os impostos sobre o trabalho, que significam que com o mesmo custo, os meus funcionários levam menos dinheiro para casa, o que inquestionávelmente coloca pressão sobre a relação trabalhador empregado, na medida em que eu (como eles) vejo os meus custos pessoais a subir (subida dos combustíveis e portagens levaram a um aumento de cerca de 30% dos meus custos de deslocação, na medida em que tenho que fazer 50 km para cada lado para me deslocar até às minhas empresas, e mesmo que quisesse ir morar mais perdo delas, neste momento ninguém combra a minha casa o que me obriga a manter residência onde estou actualmente).
  • Há a somar a isto o aumento dos impostos sobre o imobiliário (o imposto que pago anualmente por ter uma casa própria), o qual não tendo um aumento significativo em termos nominais, tem vindo a aumentar a 2 dígitos fruto dos processos de reavaliação que o estado tem estado a promover (este imposto é uma percentagem sobre o valor patrimoniar do imóvel).
Esta é uma lista apenas de exemplo, que não reflecte nem 10% de todos os aumentos de custos directa ou indirectamente de origem fiscal!!!

Ou seja, tudo isto, já coloca desafios significativos à manutenção do equilibrio financeiro de uma empresa, na medida em que tudo isto aconteceu condensado em menos de 2 anos.

Para além de tudo isto, não fossem estes motivos suficientes para abanar a motivação de qualquer pequeno empresário, temos ainda os serviços de fiscalização do estado mais zelozos que nunca.

Vivemos num país com excesso de regulamentação, completamente exagerado para o nosso nível de desenvolvimento (ver o meu post de Junho de 2011: Regulação, Burocracia e Corrupçao), em que a quantidade de legislação já existente aplicável a uma micro empresa (abaixo de 1.000.000 Euros de facturação anual), a sua dispersão e a velocidade a que aparecem novas regras, torna impossível a uma qualquer empresa cumprir com tudo, pela impossibilidade material de conhecer tudo o que aparece de novo e de suportar os custos materiais e humanos de conseguir responder a tudo dentro dos prazos indicanos nessa mesma legislação.

Este absurdo, em meu ver deve-se ao facto de cada organizmo do estado, na sua voracidade de mostrar trabalho, isoladamente se apressar a produzir regras, e a tentar obter o máximo de receitas de forma a poder fugir do plano de cortes do governo.

O que para além de todo o aumento dos impostos, significa adicionalmente um custo de multas e penalidades e um custo burocrático (horas pagas a advogados, arquitectos, contabilistas, taxas administrativas pagas contra qualquer papel que se entrege numa repartição pública, somado às horas que o próprio micro-empresário perde em filas, telefonemas e trocas de correspondencias), que afogam completamente a capacidade da empresa em inovar e se desenvolver.

Acho tudo isto muito injusto para aqueles que sendo de origens humildes, juntaram as suas poucas poupanças e se empenharam perante a banca e o estado para conseguir criar emprego neste país.

Acho ainda mais injunto, quando o estado não espera 1 único dia para se remunerar, e aplica multas substanciais caso haja um atraso (exemplo, pagamentos de IRS, IVA, Taxa Social Única, IRC, IMI, etc), para além de nestes casos ser excessívamente ágil a penhorar o contribuinte, contribuindo de forma ainda mais acelerada para a sua ruptura (e consequente aumento do desemprego), não mostrando nos seus diversos interlocutores qualquer flexibilidade, tolerância ou compaixão pelos pequenos empresarios, que chegam a passar dificuldades na sua vida pessoal, de forma a conseguirem honrar os compromissos com os seus funcionários e assegurar-lhes os pagamentos dos salários.

E daí, hoje perdi a cabeça. Perdi a cabeça com um polícia excessivamente zeloso, que, num local onde não há qualquer espaço para cargas e descargas, onde eu fui para deixar algumas roupas na lavandaria, se apressou no tempo de eu entrar e sair, em me aplicar uma multa. Foi uma coisa quase sem significado, mas foi a gota de água que fez transbordar a minha paciencia.

Coitado, perante a minha fúria, disse que eram apenas 30 Euros, mas respondi-lhe que eram mais 30 Euros a somar a todos os milhares que o estado me tem levado nestes últimos anos.

Retorquiu ele, mas há sitios adequados para reclamar disso, e nesse momento entendi perfeitamente o que se passa na Grécia, e percebi como falta apenas uma pequena faísca para acender o rastilho da revolta em Portugal.

Entendi, que eu enquanto cidadão, não tenho ninguém a quem recorrer. Fazer queixa ao provedor de justiça??? O que poderá ele fazer, na medida em que este assalto descarado e absurdo de que tenho sido vítima por parte do estado é feito ao abrigo de legislação aprovada na assembleia da república??? Este é um roubo legalizado, pelo que efectivamente, naquele momento, em frente aquele polícia, percebi que não tenho a quem recorrer por socorro.

Na minha mente criou-se o estado de espírito dos aldeões da época medieval, que se revoltavam pelos nobres lhes levarem tudo o que produziam em impostos. Veio à minha mente a razão para o surgimento de personagens míticos como o "Robin Wood". Compreendi porque algumas pessoas fazem as opções mais radicais, simplesmente porque estão num beco sem saída:
  • viver à margem da lei e da organização do estado;
  • lutar contra o estado, por vias não convencionais na medida em que as instituições e organismos dependentes do estado existem para o defender;
  • ou simplesmente amandonar este espaço geográfico em que este estado ordena, e procurar outro local a que chamar casa.
Ninguém entenda esta minha narrativa como uma crítica política contra um governante A ou B, contra um partido político C ou D. Sobretudo na medida em que os partidos não são mais que a imagem da sociedade em que vivemos.

A minha crítica vai para este modelo social em que vivemos, que embora muitos chamem democracia, na minha avaliação continua a ser apenas um feudalismo.

Feudalismo do estado composto por uma massa de pessoas focadas em apenas se servir a si e aos seus à custa de todos os outros (que ascendem ao poder por via do seguidismo partidário), o feudalismo das elites dos grupos de influências obscuros, e das relações ocultas entre bandos que se alimentam mutuamente... tudo isto à custa do povo. Povo, que denomino por aqueles anónimos, abstratos, cujo único grupo de influencia a que pertencem é a sua família mais próxima, na qual buscam apoio para não lhes faltar a comida na mesa.

E denuncio!!!
  • Denuncios os casos de dirigentes de organismos publicos que manipulam processos de contratação para arranjar empregos aos seus grupos de interesse, muitas vezes contratando pessoas de capacidade ou competência nula para as funções em que se integram, muitas vezes criando funções na organização perfeitamente inúteis apenas para arranjar espaço para mais uns compadres;
  • Denuncio os concursos publicos viciados e manipulados (o que é de conhecimento de todos mas ninguém tem a coragem de assumir), com o objectivo de dar certo contrato ou fornecimento à empresa de A ou B;
  • Denuncio as trocas de favores que nem sequer são conveniente disfarçados, em que por determinado dirigente publico beneficiar alguém, depois acontece que um primo, tio, filho, irmão, etc surpreendentemente acabam por ser contratados em cargos muito bem remunerados nas empresas dos beneficiados, ou recebem bens em seu nome cuja origem não é o seu mérito ou trabalho, ou têm acesso à compra de bens muito abaixo do seu preço de mercado como forma de realizarem supostas mais valias "lícitas".
Os esquemas são tantos, tão conhecidos, alguns tão descarados, que demonstra de facto uma consciencia da impunidade em que tudo isto consegue ser feito no nosso pequeno país. Toda a gente sabe que acontece, mas ninguém "consegue provar" !?!?!?

Tudo isto é ainda mais revoltante, que alguém que verdadeiramente foi injustiçado, dificilmente conseguirá justiça junto dos tribunais portugueses, pois se verá perdido em questões processuais que custarão verbas imensas sem qualquer garantia de um resultado justo, o que por sua vez protege os infractores, pois neste sistema judicial, só se condena algém de for apanhado em flagrante, isto claro na condição de quem o apanhou em flagrante o ter feito de forma "processualmente correcta", sob risco de essa evidência se tornar inválida (ao abrigo de um suposto principio de salvaguarda de direitos e garantias fundamentais, como a presunção de inocência até prova em contrário que apenas acaba por protegem o criminoso).

Este estado altamente regulamentado, proteccionista de todos e quaisquer direitos, e este sistema de justiça que simplesmente só serve para declarar a inocência dos "senhores do sistema" por tecnicalidades processuais, não tem espaço para pessoas que tenham sido educadas numa base de valores e princípios como a ética, a transparência, o mérito de crescer pelo seu trabalho, a tolerância, a solidariedade, o altruismo, e o desejo apenas de prover o suficiente para si e os seus, e que não se mobilizam pela soberba do poder e do acumular de posses.

A minha vontade??? Destruir sem dó nem piedade o sistema actual que descrevi nas minhas linhas acima, e participar na implementação de um sistema, em primeiro lugar moral, que efectivamente se reja pelo que eu aprendi serem os fundamentos da economia: o bem estar social - o qual entendo claramente como o bem estar da generalidade da população, o que se tem obrigatoriamente que traduzir na garantia do que considero serem os 3 pilares fundamentais da humanidade:
  1. O direito de cada ser humano em se sentir útil, assegurado através do acesso ao trabalho que assegure a possibilidade de aspiração a uma condição melhor por via da dedicação e do mérito individual;
  2. O direito de cada ser humano em se incluir num grupo social, em que seja respeitado pelos seus valores morais e pelo seu contributo para a melhoria do bem estar dos outros num verdadeiro espírito altruista;
  3. O direito de cada ser humano em amar e ser amado, num verdadeiro sentido de amor incondicional familiar, em que o núcleo familiar o qual é o pilar base da sociedade, seja um espaço de desenvolvimento pessoal, respeito, autoconhecimento e tolerância, e consequêntemente um espaço de cultivo de valores morais e éticos no qual o desenvolvimento equilibrado das gerações futuras assente.
Aqui, claramente, entendo o serviço público não como um caminho para fazer carreira, conhecer as pessoas certas, e conseguir sem mérito ter bens e poder, mas sim como um espaço altruista de pessoas de elevados valores morais e éticos que disponibilizam o seu tempo, trabalho e conhecimento, sem qualquer contrapartida pessoal, para contribuir para a melhoria do bem estar geral.

Em conclusão, face a não ver qualquer capacidade de isto vir a acontecer de forma pacífica e voluntária, e observando a história, o caminho que vejo para Portugal e para a Europa, é um caminho de rupturas violentas e profundas, que podendo não se materializar numa guerra convencional, estou crente que poderá vir a significar um crescimento exponencial de insurgimento popular por toda a Europa contra esta Europa Feudal dos senhores do sistema e dos mercados, e que acredido tomará formas muito explícitas de violência, as quais não sendo o caminho que os meus pais me ensinaram, hoje aceito como uma solução inevítável para aqueles que como eu se vêm sem hipótese de recurso, na medida em que as instituições existentes acabam por se revelam meros mecanismos de defesa das opções do estado, por muito injustas que elas sejam.

Uma última palávra para os partidos políticos. Achei num primeiro momento que a solução deveria passar por uma maior participação do povo nos partidos políticos. No entanto, os partidos são também constituidos por pessoas. E infelizmente, um número importante de pessoas que hoje participam na vida activa dos partidos estão lá para se servirem a si, e não para servir os outros, pelo que aqui, mais uma vez, independentemente do mérito pessoal de um ou outro dirigente, não vejo capacidade na organização política actual para resolver os graves problemas que afectam a sociedade, na medida em que em minha opinião, a própria logica do funcionamento e organização partidária, é parte do problema na medida em que alimenta essa cultura corporativista de associação para o mérito de alguns à custa de todos os outros.

Assim, o único passo que vejo como possível para a realização de uma mudança estrutural na sociedade Portuguesa de forma pacífica, é a realização total da democracia, por via da possibilitação de candidaturas pessoais (individuais e sem filiação partidária) para todos os cargos políticos do estado (mas de imediato para presidente de junta de freguesia, presidente de câmara, e deputado), em que os candidatos vençam pelo seu mérito pessoal (em circulos uninominais) e possam, um a um, fruto da legitimidade que lhes é conferido pelo voto pessoal e directo do povo, possam operar uma limpesa no sistema público Português.

Para que não hajam dúvidas na interpretação das minhas palavras, em termos de convicções, tenho uma base de educação cristã, democrata, que tipicamente se associa às idiologias de direita, mas ouço cada vez mais os meus amigos a dizer que tenho um discurso de esquerda. Não defendo o medianismo, o proteccionismo, o corporativismo, os direitos sem obrigações que vejo habitualmente nos discursos dos dirigentes de esquerda em Portugal. Mas isto também não significa que defenda incondicionalmente todas as ideias de um qualquer partido. Tenho as minhas próprias ideias, com as quais estarei disponível para contribuir sempre que encontrar um contexto democrático em que as minhas ideias queiram ser ouvidas, e com as quais eu contribua para a construção de uma nova ideia de organização política e de país, que sei não será a minha visão, mas sim a conjunção das ideias de todos os seus contribuintes num verdadeiro exercício de encontro democrático.
1 Abraço do Angatú (que por este caminho, atravessará o atlântico para o nosso país irmão Brasil, mais cedo do que esperaria).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Obrigado por lerem o meu Blog!

Boa noite,

Hoje, ao olhar as estatísticas do blog, não pode deixar de vos escrever esta palavra.

OBRIGADO!!!

Não me conheçem, e ninguém vos obriga a ler os meus textos. Mas são muitos os que os leêm.
Pelo feedback que tenho recebido, fico grato por com o meu testemunho e experiência, poder ajudar a evitar que cometam alguns dos erros que eu próprio cometi.

Conforme escrevia no meu primeiro post escrito em Janeiro de 2010, criei este blog como a expressão do meu contributo cívico para um Portugal melhor, tentando desta forma anónima, e sem qualquer retorno dos meus contributos, ajudar a que este país se torne menos egoista, e perceba que "fazer o bem sem olhar a quem", é a única formula para andarmos para a frente e deixarmos a miséria em que como país estamos atolados.

Indo às estatísticas, o Blog http://portugalamazonas.blogspot.com já foi visitado por mais de 6.000 pessoas neste 2 anos, observando hoje uma média superior a 300 visitas mensais.

Sendo a maioria dos leitores de Portugal, observa-se um número crescente de leitores no Brasil, que em alguns meses supera inclusive o número de leitores de Portugal. Vejo neste país irmão, ao qual tenho laços de familia profundos, uma iniciativa que gostaria um dia também de ver em Portugal. Quem sabe em breve, estarei por lá de forma mais definitiva, e não apenas de visita. Apesar de todas as dificuldades, vejo no Brasil um dinamismo e um ambiente propiciante ao desenvolvimento de um tecido florescente de pequenas empresas ao nível do que neste momento apenas posso sonhar para Portugal a 5 ou 10 anos de distância. Tenho aprendido muito com este país e seus cidadãos.

Há também um número significativo de leitores nos EUA, UK, Alemanha, Angola, Moçambique e Espanha, observando-se no entanto leitores em menor quantidade de países de todos os continentes. A todos o meu obrigado, e que o meu blog possa servir para que ajudem este país secular que é Portugal a encontrar o seu rumo.

Apesar as dificuldades extremas que hoje o tecído das pequenas empresas Portuguesas vive, olhar para esta quantidade de leitores lembra-nos que hoje estamos de facto abertos ao mundo, para o que é bom, e para o que é menos bom.

Isto incita-me a ser ainda mais provocador com as autoridades portuguesas, incitando-as a ser decididas na tomada de um rumo que traga valores como a ética e a honra de volta para o dia-a-dia empresarial, o que jamais se poderá conseguir sem um sistema juridico simples, com leis claras, com forças de investigação capazes e convenientemente apetrechadas de activos humanos e materiais, e com instituições fortes e de confiança.

Que esta exposição que hoje as ideias, as pessoas e os países têm ao mundo globalizado sejam uma força determinante na mudança de rumo das políticas publicas em Portugal, pois hoje é impossível imaginar que podemos esconder cá dentro os podres e fabricar uma imagem perfeita para nos vender no exterior.

Há que ser genuíno, há que ser the facto "the real thing", senão seremos triturados.

Estamos no limite do prazo. Não há mais tempo para perder. Temos que mudar Portugal!

Este é o sonho do,
Angatú Guarini (Português, e ainda optimista)

domingo, 25 de março de 2012

(in)Justiça em Portugal - um caso real de franchising

O que vou relatar nas próximas linhas é um caso real, que demonstra o enorme risco que é hoje investir em Portugal.

Uma rede de franchisados abriu cerca de 30 unidades. Estamos a falar de um franchising de serviços de valor acrescentado, com investimentos iniciais na ordem dos 500.000 Euros.

O franchisador, vendeu uma ideia de negócio, a qual ao fim de pouco tempo, os franchisados mais informados constataram estar suportada em bases muito pouco éticas, e num modelo operacional ilegal em muitos aspectos, representando sérios riscos de ser multados para os franchisados da rede.

Face aos avultados investimentos, todos os franchisados se empenharam em tentar procurar alguma base boa no negócio, e lutar para conseguir pagar os tremendos investimentos realizados.

Após alguns meses iniciais de funcionamento da franquia, o franchisador, ao verificar que o franchisado já estava completamente nas suas mãos (endividado e agarrado a um contrato leonino), começa a impor fornecimentos e taxas não previstos em contrato, obrigando por exemplo os franchisados a contrarar telefones e utilizar um sistema informatico centralizado no franchisador (mas integralmente pago pelo franchisado), obrigando os franchisados a adquirir toda a especie de produtos e serviços através da sua central de compras, a qual ganhava margens entre 10 a 30% em cima de tudo o que transaccionava.

O franchisador chegou a impor o fornecimento de sreviços de limpesa, apoio jurídico, contabilidade ou outros completamente independentes da actividade do franchising.

Conseguiu muitas cedências dos franchisados ao longo do primeiro ano suportado pela boa fé e ignorância dos franchisados, numa fase em que ainda estavam a aprender o negócio.

Assim que os franchisados começavam a perceber no que se tinham metido e começavam a levantar quaisquer tipo de questões, então a postura do franchisador mudava radicalmente para uma postura prossecutoria e penalizadora, utilizando o seu controlo total sobre o negócio dos franchisados associado à sua fé no não funcionamento da justça, para chantagear os franchisados a aceitar imposições completamente ilegais.

Exemplos das posturas prossecutórias eram assim que um franchisado levantava questões, fazer auditorias mistério, fabricando listagens de incumprimentos e aplicando em consequência desses "supostos" incumprimentos, multas de penalidade de valores substanciais. Estas multas, eram aplicadas sob a forma de emissão de facturas "isentas de IVA?!?!?" com data de pagamento a 8 dias ?!?!?!

Depois o franchisador utilizava esses supostos "valores devidos por motivo de multa" como modeda de troca pelo silêncio do franchisado e pelo seu "dobrar de costas". A conversa era do género: calas-te e pagas o que eu quero, e eu nao te arruino.

Exemplos de actividades penalizadoras eram por exemplo proibir ou barrar quaisquer tipos de fornecimentos a esse franchisado. O franchisador obrigava a que qualquer fornecedor utilizado pelos franchisados, mesmo que os franchisados comprassem directamente ao fornecedor, a ser "registado" na central de compras. Esse registo passava pelo obrigar o fornecedor a pagar-lhe uma percentagem dos valors vendidos à rede a troco do ser acesso à mesma, a assinatura de um contrato com condições como só poder fornecer a quem o franchisador autorizar, e não revelar que pagava qualquer valor ao franchisador. E também fazia jogo com os fornecedores, pois dizia ter acesso livre às contabilidades de todos os franchisados, pelo que se observasse nos seus balancetes valores fornecidos que eles (fornecedores) que não tivessem sido declarados ao franchisador para efeito de pagamento de "comissões" sofreriam penalidades significativas, penalidades estas também aplicaveis caso divulgassem os termos destes "acordos de fornecimento" ou fornecessem a algum franchisado sem sua autorização.

Entre os fornecedores "registados" estava tudo o que possam imaginar. Desde seguros a telefones, copos de plastico, e por aí adiante até aos materiais específicos da actividade da empresa.

Também o franchisador obrigava a que os contratos de arrendamento fossem assinados em seu nome, dizendo aos franchisados que era assim apenas para a obtenção das vantagens negociais que ele enquanto empresa de maior dimensão e estabelecida no mercado conseguiria, algo inacessível ao franchisado. Com isto, celebrava em seu nome desde contratos de água ou luz, até contratos de telecomunicações.

Ao o franchisado se aperceber que até em tudo isto o franchisador colocava margem, e que as condições eram menos vantajosas que as que ele (franchisado) sozinho conseguiria no mercado, o franchisador mandava por exemplo desviar-lhe os telefones para a sua central de atendimento de forma ao franchisado ficar sem clientes, até que o franchisado aceitasse calar-se e pagar oque ele pedia.

Outra forma de pressão era desligar o software dos franchisados, vedando-lhes o acesso quer aos dados que fiscalmente é obrigado a ter, quer aos dados pessoais dos seus clientes, impossibilitando os franchisados sequer de contactar com os seus actuais clientes.

O franchisador chegou até, sem nenhuma vergonha, a contactar directamente os clientes dos seus franchisados e indicá-los para as unidades da rede de sua pertênça (sim o franchisador possuia diversas unidades em concorrência com os seus franchisados).

Em toda esta relação, o franchisador fugia sempre a qualquer documento escrito, e se o franchisado começava a colocar por escrito as suas reclamações ao franchisador, ou se por exemplo contratava um advogado e começava a fazer-se acompanhar por ele nas reuniões com o franchisador, aí o franchisador não olhava a limites para levar o franchisado à ruptura.

Houve franchisados, menos informados, menos apoiados, e menos capacitados financeiramente, que não viram outra alternativa que não fosse aceitar uma situação de quase escravidão, para conseguir pagar os avultados investimentos, quase todos pagos com empréstimos bancários facilitados pelo franchisador, investimentos esses elevados fruto da sobrefacturação colocada pelo franchisador em tudo o que era fornecido, desde as obras, aos equipamentos, até esferográficas e papel, levando os franchisados a gastar muito mais que qualquer operador independente gastou para abrir uma operação identica.

Muitos diziam: só quero conseguir aguentar até terminar o contrato de franquia, e pagar as dividas ao banco, pois já sei que no final, tudo isto ficará para ele (o franchisador - fruto da titularidade dos contratos de arrendamento dedido pelo mesmo e da opção deste unilateral de renovar ou não os contratos e em que condições).

Tudo isto tem vindo a acontecer com um número significativo de franchisados já à 5 anos, em Porugal, país que se quer apresentar como desenvolvido e competitivo.

Alguns dos franchisados mais informados, também se demonstram derrotados, pois tendo detectado as ilegalidades do negócio, tendo sido chantageados e penalizados pelo franchisador, foram apresentar queixa a todas as autoridades que possam imaginar (finanças, autoridade da concorrencia, comissão nacional de protecção de dados, entidade reguladora do sector, polícia judiciária, etc), e até hoje não houve nenhum processo de investigação que prosseguisse e levasse este franchisador a pagar por tudo o que fez.

Assim, este franchisador continua hoje a operar em Portugal, a captar novos franchisados, e a vender unidades em autenticos golpes financeiros, já conseguiu levar à falência alguns franchisados que não aguentaram lutar esta guerra, continua a mostrar uma postura completamente arrogante, a considerar-se acima da lei, pois sabe que em Portugal as instituições ñão funciona.

O responsável máximo deste franchisador chegou a afirmar em reuniões de franchisados: em portugal ninguém tem "sucesso" a cumprir as leis, por isso primeiro fazemos o que queremos e depois logo vemos, pois ou simplesmente as inspecções não funcionam, ou a funcionarem o processo cai em tribunal por falhas processuais.

Este franchiador tem vivido uma vida de quase pequeno milionário, deve dinheiro a inúmeros fornecedores, promove activamente práticas ilegais e viola a lei com a maior das descontrações, porque sabe que está em Portugal, país de brandos costumes (em que por exemplo ao contrario do que se passa noutros países, nenhum destes franchisados enganados contratará uma turma para lhe dar uma carga de pancada) e em que a lei de nada serve pois o sistema judicial e as instituições, na componente da relação entre empresas (direito comercial) não funciona de todo.

Para quem não está por dentro, poderá considerar que o franchisador tem o direito de fazer o que bem entender com os franchisados.

Mas não é bem assim. Dou apenas dois exemplos:
  - legislação de dados pessoais;
  - tratado de roma (legislação da comunidade europeia na área da concorrência).

No primeiro caso, o franchisado, sendo uma entidade juridica e financeira autónoma do franchisador, é o titular da guarda dos dados pessoais dos seus clientes, estando restrito por lei a sua transmissão a terceiros, mesmo no contexto de franquia, pelo que o franchisador "roubar" as bases de dados dos seus franchisados e aliciar os clientes para as suas unidades próprias, é uma clara violação desta lei, e só neste país é que efectivamente ele consegue fazer isto durante anos sem que as entidades responsáveis se manifestem.

No segundo caso, o franchisador não pode obrigar os franchisados a comprar-lhe de tudo, pois no entendimento da legislção comunitária, o fronecimento exclusivo pretende defender o saber fazer ou propriedade intelectual do franchisador. Ou seja, a contratação de serviços genéricos como sejam contabilista, seguros de acidentes de trabalho, serviços de telecomunicações, etc, ficam completamente fora do âmbito do franchisador. Agravando esta obrigatoriedade com o facto de o franchisador usar por exemplo as telecomunicações e os fornecimentos como chantagem, colocando em risco de sobrevivência a empresa por a impossibilitar de operar, não há em qualquer país sério dúvidas de que se estão a cometer as maiores ilegalidades.

Perante este contexto, é difícil criar uma base de crescimento para Portugal, e é difícil dinamizar o empreendedorismo.

Somando a tudo isto o facto de em Portugal as consequências de uma falência de um pequeno empresário serem insuportáveis, barrando-lhe a possibilidade de aprender com o erro e reerger-se com um novo negócio melhor montado, como acontece em tadas economias pujantes pelo mundo, é efectivamente uma aventura de alto risco investir em Portugal.

Devo dizer-vos que inclusive já houve tentativas de divulgar esta história aos Media, para assim tentar fazer justiça, mas sendo pequenos e poucos, não coube nas prioridades editoriais investigar estas histórias a averiguar os factos.

A vontade é de colocar aqui quer o nome da empresa, as suas marcas, e os nomes dos seus responsáveis. Mas em primeiro lugar, a minha educação ética não o permite, e em segundo lugar, alguém que o fizesse ainda se arriscaria a ser processado por este franchisador por difamação, processo mais simples de ganhar pelo franchisador perante a evidência dos escritos online, contra a quase impossibilidade de em tribunal em Portugal provar que estas pessoas estão a cometer verdadeiras atrocidades.

Com a devida descrição, mas aqui deixo o alerta e o testemunho desta história.

Por isso, estejam atentos e tenham cuidado com os vossos investimentos em Portugal.

1 abraço,
Angatú

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Direitos dos Trabalhadores. Quem paga?

Nada como vivermos uma situação para termos uma opinião crítica sobre ela.

Relembro que escrevo sobre a realidade das pequenas e micro-empresas em Portugal, pelo que admito que a realidade das médias e grandes empresas seja dispar da que descrevo, sobretudo porque o equilibrio de forças patrão/trabalhador e substancialmente diferente.

Fala-se muito em Portugal dos direitos adquiridos, e sobretudo dos direitos dos trabalhadores.

Lamentavelmente, na generalidade dos casos, fala-se disto numa perspectiva de guerra patrão/empregado, em que se supõe que o patrão é pouco ético, explora os empregados, e retira dinheiro da empresa para um saco azul, e os trabalhadores por sua vêz são pobre coitados muito trabalhadores, inocentes e desprotegidos que sofrem nas mãos do patrão ditador.

Só neste pressuposto é que se pode compreender que num momento de dificuldades em que a empresa necessita de reduzir custos para sobreviver, tenha que dispôr de verbas significativas para reestruturação e redução dos seus custos, por via da obrigação de indemnizações a funcionários.

Concordemos que esta situaçao não descreve de todo a realidade da maioria das empresas existentes no século XXI !!!!

Vejamos o absurdo: a empresa está em dificuldades financeiras, mas tem que gastar dinheiro (que não tem) para conseguir reduzir os seus custos operacionais. Isto faz algum sentido?

Entendo que as leis são escritas e têm o propósito de equilibrar as relações e proteger as partes mais fracas.

Hoje o trabalhador não é a parte mais fraca da relação trabalhador/patrão sobretudo no caso das pequenas e micro-empresas.

No caso das pequenas empresas, na generalidade dos casos, os patrões estão pouco capitalizados, e têm todos os seus bens comprometidos com a empresa. Ainda mais nos casos de empresas jovens, e ainda a pagar os empréstimos fruto do investimento inicial, em que provavelmente nem sequer houve tempo para constituir reservas de capital para fazer face a momentos mais difíceis.

Assim, para estes patrões, por vezes a redução dos custos operacionais quer por via de reorganização interna de serviços, quer por via de redução de efectivos, é um imperativo de sobrevivência.

Na realidade Kafkiana que se vive hoje em Portugal, não faz qualquer sentido aplicar as mesmas regras de "equilibrio trabalhador/patrão" numa micro empresa jovem e descapitalizada, e num grande empresa nacional com capital disperso em bolsa.

Existe uma lei laboral que define um conjunto de direitos dos trabalhadores. É legitimo que seja definido em lei os direitos de todas as partes de uma relação.

No entanto, muitos esqueçem-se que uma parte significativa desses direitos dos trabalhadores representam custos que terão que ser suportados pelos patrões, e que na realidade actual da economia Portuguesa, o cumprir de todos esses direitos pode ser a formula para levar à ruptura a micro empresa.

Como em tudo na vida, existem pessoas boas e pessoas menos boas. E o facto é que existem muitos funcionários que tendo um patrão ético, que não esconde dinheiro no colchão, e que conduz os seus negócios com transparência e respeito pelos seus trabalhadores, se disponibilizam para abdicar de alguns desses direitos consagrados em lei com vista a um objectivo maior que é a sobrevivência da empresa e a manutenção dos seus postos de trabalho.

Mas o que fazer com aqueles colaboradores que, tendo sido beneficiados ao longo da sua vida na empresa, a quem o patrão deu compensações e previlégios acima das suas obrigações legais por vários anos, ao verem a empresa em dificuldades não olham a estratagemas, nem se preocupam minimamente com a sobrevivência da empresa, pretendendo apenas o seu bem individual, não olhando a meios, e colocando em risco a sobrevivência da empresa, e por consequência dos postos de trabalho de todos os seus colegas???

Não deveria também haver em lei discriminado os direitos dos patrões? Por exemplo: o patrão tem o direito a uma compensação mínima pelo seu investimento de capital e pelo seu trabalho na gestão da empresa, e a ser protegido do oportunismo e falta de ética dos seus trabalhadores.

É que muitos esqueçem-se que num caso de fracasso de uma empresa, o patrão nem sequer a subsídio de desemprego tera direito! Enquanto que o trablhador, além de todos os direitos que tem com o empregador fruto do contrato cessante, ainda tem diversos apoios do estado face à sua situação de fragilidade.

É justo que um trabalhador provoque o encerramento de uma empresa para fazer "pagar todos os seus direitos", à custa da miséria e da fome do seu patrão, e do desemprego de todos os seus colegas de trabalho?

Como dizia um dia destes na televisão o Dr. Medina Carreira, so há direitos quando há dinheiro para os pagar. E neste momento as pessoas têm que se consciencializar que não há dinheiro!!!

Como lida o enquadramento legal Português com este facto brutal? Como estão a encarar patrões e trabalhadores esta realidade?

O que percebo é que o sistema não se consciencializou nem adaptou a esta realidade, pelo que em caso de conflitos nas empresas, estando estas em dificuldades, o caminho é por regra o seu encerramento. Por exemplo, um patrão não têm efectivamente condições financeiras para honrar todas as obrigações legais com os seus trabalhadores. Chegando esta situação a tribunal, o desfecho a esperar é a ordem de liquidação dos bens da empresa para pagar aos trabalhadores. Destroi-se uma empresa, o trabalho de muitos, acaba-se a expectativa de geração de valor futuro, e dividem-se os despojos pelos mercenários sedentos de mais umas pingas de sangue.
Como em tudo na vida, há os éticos, e os que não olham a meios para os fins. Havendo concerteza patrões de ética duvidosa, o que obrigou ao longo dos últimos anos ao desenvolvimento de uma legislação laboral portuguesa que "carrega os trabalhadores ao colo sem riscos" o que em minha opinião tem levado a uma cada vez maior mediocridade e ausencia de brio ética ou profissional, hoje é também realidade que cada vez mais os trabalhadores se tornam patrões por necessidade de sobrevivência e por criação de auto-emprego.

Quando se vêm do outro lado e têm que "pagar os direitos", a maioria acaba por mudar de opinião relativamente ao seu sentido de justiça acerca da legislação laboral existente.

Hoje, com tantos micro-empresários em dificuldades, muitos sequestrados pelas ameaças dos seus trabalhadores, deveria ser criada uma carta dos direitos dos patrões, que premiasse o mérito, o risco e a ética, e protegesse empresas criadas e desenvolvidas com estas bases.

Hoje que pela primeira vez na minha vida me vi na necessidade de reestruturar empresas com vista à redução dos seus custos operacionais, vejo também o quão absurdo é o enquadramento legal Português em termos de legislação laboral.

Hoje a parte mais fraca é o patrão (claro que me estou a referir a jovens micro e pequenas empresas), pelo que deveria existir um regime especial por exemplo para empresas com menos de 5 anos de vida, menos de 1 milhão de Euros de Facturação Anual e menos de 10 colaboradores em que o patrão é também operacional na empresa.
Esse regime deveria proteger mais os direitos do patrão, e simplificar a legislação laboral, numa logica de que estamos a falar de uma fase de muita fragilidade para as empresas, em que a concorrência é duríssima, e em que a bem do empreendedorismo (que tanto de apregoa hoje em dia) é fundamental criar condições para que a empresa possa efectivamente atingir a maturidade.

Porquê 5 anos? Pois este é habitualmente o prazo de maturidade da dívida bancária de apoio ao investimento, e também o prazo legal de amortização da maioria dos gastos de capital.

Porquê até 1 milhão de euros? Porque até esse valor, estimando uma margem líquida do negócio de 3% estamos a falar de estimativas de rendimento para o patrão de 30.000 €/ano, o que no contexto actual é um luxo considerando que muitas empresas jovens estão a apresentar prejuizos ou lucros próximos de zero.

Porquê 10 trabalhadores? Porque estamos a falar de estruturas muito pequenas, em que uma pessoa a mais ou a menos faz muita diferença, e em que toda a burucracia legal tem um peso relativo muito importante nos custos da empresa.

Claro que tudo isto não vale de nada se temos um país em que a lei não se faz cumprir, quer porque os tribunais são caros (e dessa forma inacessiveis às empresas em dificuldades), quer porque são lentos em que as decisões por regra são tomadas quando já não têm qualquer efeito prático por exemplo na defesa da continuidade de uma empresa.

Era fundamental haver também uma via-verde legal para pequenas e micro-empresas, bem como defensores públicos tal como existe para as pessoas sem capacidade financeira, na medida em que as micro-empresas muitas vezes coincidem com um indivíduo.

Também, como em todas as questões legais, deveria haver uma força de investigação significativa que proactivamente fiscalizasse as empresas de forma a filtrar o trigo do joio numa fase ainda pré-conflicto.

Faz parte da minha educação: o trabalho dignifica o homem. O homem é completo quando tem trabalho, família e sentido de pertença social (integração numa comunidade).

Infelizmente, não vejo que este Portugal dê importância a isto, pois não vejo o premiar da criação de trabalho e sobretudo do mérito em desempenhar e desenvolver um trabalho (já para não falar da familia e da integração/convívio social).

O regime proteccionista que temos em que o estado é como uma grande mãe que está lá para todos os que nao têm sem verificar a razão de não ter, premeia a preguiça, o xico-esperto, o subsidio-dependente, enfim, até o trabalhador não ético que tendo sido premiado excepcionalmente pelo seu patrão, e tratado com respeito e consideração, aproveita todas as letrinhas da lei para sacar mais uns tostões no momento de sair porque a empresa simplesmente não lhe consegue continuar a pagar.

Há quem diga que não sou uma pessoa normal. Porque deixei muitas vezes de retirar lucro para mim das minhas empresas para premiar um desempenho que considerei diferenciador, distribuindo o lucro por quem me ajudou a conseguir vencer.

Muitas vezes fui criticado, com o argumento de que no momento em que eu passar por um aperto, nenhum dos funcionários que receberam esses extras se lembrarão de fazer sacrifícios por mim.

Hoje compreendo porque muitos patrões efectivamente pagam o mínimo possível a quem trabalha, não efectivam ninguém, e mantêm um distanciamento dos seus trabalhadores. De facto na minha situação de dificuldade, os trabalhadores que mostram uma compreensão e um compromisso com a empresa são uma minoria.

Este é um sinal muito grave dos valores da sociedade Portuguesa. Este tipo de trabalhadores comprometidos não deveriam ser uma minoria, severiam sim ser uma maioria.

Será que temos maus trabalhadores porque temos maus patrões, ou temos maus patrões porque temos maus trabalhadores.

Aqui, como em tudo na minha vida, penso que os actos ficam com quem os pratica. E que cada um tem que procurar viver bem com a sua consciência, e em todos os momento procurar retirar o melhor das oportunidades que se apresentam pois só assim é que se consegue evoluir e crescer.

Mais uma vez, estou decepcionado com o País, com as leis, com os tribunais, com as instituições... mas sobretudo com as pessoas, pois no final é das pessoas que se trata.

Vou mudar de atitude ou fazer escolhas diferentes? No que tem a ver com os meus valores de base, não.
Continuarei a ajudar quem quiser ser ajudado, a acreditar que as pessoas por natureza são boas, e apenas necessitam de um ambiente e oportunidades que lhes permita mostrar isso, e a olhar para os desafios como oportunidades para crescermos, aprender e fazer melhor.

Mas tenho também que dizer, que o ambiente social Português, o qual se reflecte nas leis, instituições e relações comerciais e laborais, tornam muito dificil passar os dias sem estar constantemente a sofrer decepções.

Há algo que mudarei certamente: passarei a proteger-me mais. Não empreenderei tanto, não me exporei tanto, pois só assim consigo ser fiel aos meus principios, conservando a minha energia e evitando o desgaste que para mim representam as decepções que o contexto vai apresentando.

O meu país, não me permite realizar todo o meu potencial. Enquanto cá estiver procurarei viver de forma mais simples e anónima, mas não consigo mais deixar de procurar oportunidades noutro país em que o mérito seja mais compensado e reconhecido, e em que a responsabilidade pessoal se sobreponha ao proteccionismo maternal de um estado que ao ser tão maternal, castiga quem por seu mérito cresceu e evoluiu.

Portugal precisa de se reestruturar socialmente. Portugal precisa mais que tudo, de uma nova estrutura de valores que atravesse a maioria da sociedade.

Não podemos depositar a esperança nesta mudança em outros que não sejam as leis e as instituições.

Será que eles (as instituições) estarão à altura do desafio??? Se não estiverem, este não será um país para mim nem para a maioria da geração pós 25 de Abril, sobretudo daqueles que não temem sacrificios nem trabalho.

Como já escrevi em outros posts, hoje emigrar e sair de Portugal é quase uma questão de afirmação de mérito, pois cada vez mais entre amigos se fala que quem é bom, sai e vai fazer sucesso noutro país, que quem cá fica é porque não serve para o mundo globalizado.

É triste ver assim a percepção da geração dos 30 e 40 anos.

Com isto, quem conseguiremos trazer para cá?

Estamos de facto condenados a ser um país de trabalho sub-qualificado, barato, e que viva cada vez mais da imigração oriunda de países ainda pior que nós???

Só há direitos quando há alguém com capacidade efectiva para os pagar.

Eu digo: toma o teu destino em tuas mãos, e constroi os teus direitos por teu mérito e não por muleta em leis, ameaças o incapacidades dos outros.

É uma vida triste ter alguma coisa, porque outro foi obrigado a abdicar dela para quea possuíssemos sem que a tivessemos conquistado por mérito.

Que 2012 efectivamente seja o ano da viragem em Portugal, pois para mim será a última oportunidade.

Orienta-te Portugal!

1 abraço,
Angatú

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Falência do franchising enquanto modelo

Vivem-se tempos difíceis, e apesar de em muitos negócios continuar a haver clientes, o que cada cliente gasta, não para de baixar.

Estou a falar de um cliente concumidor de classe média, claro.

Nestes contextos, os responsáveis das empresas locais (pequeno comercio e serviços - onde se enquadra a maioria das ofertas de Franchising) vêm a sua criatividade desafiada ao extremo na procura de oporunidades para aumentar as receitas, e rúbricas onde cortar custos.

Entre as possibilidades de aumentar a receita, os proprietários e gestores mais bem preparados, irão quase certamente passar pelas seguintes respostas:
  1. Vender mais entre os seus produtos ou serviços actuais a cada cliente;
  2. Aumentar o número de clientes na sua área geográfica;
Tipicamente são estas as soluções que os franchisadores apontam, pois têm um negócio assente num elevado grau de especialização (mercado de nicho, e um modelo de negócio desenhado e optimizado para um âmbito restrito), e assente num conceito de exclusividade geográfica (pois assentam o seu modelo de crescimento e financiamento na venda de áreas georgráficas exclusivas para esse modelo de negócio).

Mas estes dois tipos de soluções, são respostas num contexto de um mercado a funcionar regularmente, em que se pressupõe o facto de existir uma procura relativamente estabilizada (sem contrações drásticas e repentinas, ou alterações estruturais significativas).

Esta não é de todo a situação que o mercado Português vive neste momento. Os grandes números escondem uma realidade dramática nas pequenas e micro empresas de comercio e serviços ao consumidor.

Quando falamos de uma contração do PIB de 3%, muitas pessoas cometem o paralelismo grosseiro de pensar que essa quebra se transmite em igual proporção às diversas empresas, e logo concluem que 3% de redução nem pode ser assim tão máu.

Mas a realidade é que o PIB é um número muito abstracto para medir o comportamento dos consumidores no pequeno comercio (até porque nele não é contemplada uma parte substancial da economia, que é a dita economia paralela, e que é uma parte importante das receitas de muitas micro empresas e profissionais liberais).

Já por exemplo, uma contração de 1% do PIB, pode estar associado a uma contração de 4% no consumo privado. Este númer, o consumo privado, já é mais próximo da realidade que se sente no comercio, mas mesmo assim insuficiente, na medida em que aqui estão a compra de bens alimentares, uma das principais fatias deste número.

Portanto, um decréscimo de 1% no PIB, efectivamente pode traduzir-se numa redução de 20 ou 30% no volume de negócios de um determinado sector instalado numa determinada área geográfica.

O drama em Portugal é que não existem dados estatísticos que permitam este grau de granularidade, pelo que infelizmente muitas vezes os principais responsáveis, acomodados ou ignorantes, acabam por tomar decisões completamente erradas devido aos grandes números não lhes permitirem tomar decisões mais informadas, e sobre um conhecimento mais próximo da realidade.

Toda esta explicação pretende ajudar a perceber, que num momento como este, pode acontecer que um determinado modelo de negócio se torne inviável.

Infelizmente a grande maioria dos franchisadores não faz sequer estudos de viabilidade convenientemente sustentados. Mas imaginando que um determinado franchisado efectivamente fez o seu trabalho de casa em condições, vejamos um caso.

Por exemplo, um estudo de mercado de um franchisador diz que precisa de 4 novos clientes por dia com um valor médio de compra de 1.000 €, para obter uma uma receita média mensal de 80.000 €.
É pressuposto que para ter 4 novos clientes por dia com este valor de compra médio, que é necessário num bairro de classe média, conseguir em média 8 novos visitantes por dia, em que se consegue um rácio de conversão de 50% dos visitantes em clientes.

Então este negócio, necessita de cerca de 160 visitantes por mês, com interesse no produto e com capacidade financeira para potencialmente gastar 1.000 €.

Que percentagem da população de enquadra neste perfil? Podemos pensar que se enquadra neste grupo cerca de 30 % da população numa determinada localização. Sabendo que num mercado concorrencial nenhum novo fornecedor consegue mais que 30% de cota de mercado, vamos admitir que o potencial deste negócio a 5 anos, é atingir 10% de cota de mercado.

Então, em 5 anos, necessitaremos de 160 x 12 x 5 = 9600 visitantes ao longo de 5 anos. O que a corresponder a 10% da população, significa que este negócio necessita de 96.000 habitantes para poder ser viável.

Se considerarmos adicionalmente que um estudo de mercado revelou que um consumidor tipico adquire este tipo de serviços num raio de cerca de 5 km da sua residência,  e que a probabilidade de comprar a mais de 2 km é apenas de 50%, então este negócio só será viável em localizações que compreendam no minimo 48.000 habitantes dentro de um raio de 2 km.

Quantas localizações temos assim em Portugal???

Bem, neste exemplo, imaginei um franchisador que efectivamente fez bem o seu trabalho de casa.

Mas entretanto, o estado alterou o regime fiscal, a procura baixou, o rendimento disponivel das famílias diminuiu, e imaginemos que num espaço de 1 ano, em vez de 30% da populaçao se enquadrar no grupo das pessoas com propensão para comprar este produto, passou a poder apenas considerar-se 10%.

Só isto (e que reflecte em muito o que se está neste momento a passar em Portugal), implica que esta mesma empresa, para ser viável, necessitaria de um volume de população de 144.000 habitantes nu raio de 2km à sua volta!!!

Num cenário destes há que pensar fora da caixa e procurar outro tipo de soluções que passam por:
  1. Diversificar a oferta de forma a endereçar uma percentagem maior da população envolvente;
  2. Ajustar o modelo de negócio de forma a conseguir atrair clientes de zonas geográficas mais distantes.
Estas duas soluções esbarram na maioria dos casos, com os modelos de franchising existentes.

Em primeiro lugar, porque o franchisador desenvolveu o seu modelo de negócio numa base de venda de zonas geográficas exclusivas, numa malha apertada ao ponto de maximizar o potencial de clientes para o negócio à escala nacional, e a assumpção desta nova realidade, obrigaria o franchisador a assumir junto dos seus franchisados que o modelo que lhes vendeu é inviável, e aceitar deles uma rescisão incondicional e as consequentes perdas de receitas. Já viram algum franchisador fazer isto? Eu ainda não.

Em segundo lugar, o modelo do franchisador muitas vezes trás agregado um conjundo de relações (mais ou menos claras) com fornecedores, parceiros de negócio, e empresas conexas, que fazem muitas vezes com que a diversificação da oferta dê poder de escolha aos franchisados, e em sentido inverso, retire poder e autoridade ao franchisdador, o que acaba muitas vezes por levar à existência de inconsistências na rede, que são sempre motivo de atritos entre os franchisados que têm a iniciativa, e os outros que se queixam à rede de concorrencia desleal dos que não fazem igual a eles.

Sim, porque a partir do momento que as diferentes unidades têm ofertas distintas, passa a haver efectivamente um potencial de concorrencia entre elas, sobretudo nas redes que têm um modelo de implantação geográfica com muita granularidade.

Por um lado ou por outro, o facto é que o franchisador, se mantem inerte no rumo, e incapaz de ajustar ou reinventar o modelo de negócio.

Num contexto destes, adicionalmente, os franchisados começam a ver muito rapidamente as suas margens a diminuir, até entrarem em prejuizo, o que perante a incapacidade da empresa em suportar todos os custos, também não conseguem suportar os custos do franchisador.

Em conclusão, num contexto destes, as necessidades da empresa, quer em termos de corte de custos, quer em termos de aumento de receitas, tornam incomportável o modelo de franchising, não só porque este as amarra a um modelo que deixou de ser viável, mas também porque lhe imputa uma sobre-estrutura de custos que o mercado simplesmente deixou de pagar.

Podem muitos dizer que é injusto, mas é a realidade. Uma realidade infelizmente que muitos tardam em reconhecer e aceitar.

Conheço mais de uma dezena de franchisings em Portugal, relacionados com pequenos negócios de comercio ou serviços de bairro. Todos eles apresentam este mesmo comportamento, e por isso digo: para este tipo de negócios, o franchising faliu e deixou de ser um modelo viável.

1 abraço,
Angatú!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Espiral negativa: situação da economia Portuguesa

É reconhecido por muitos especialistas que mesmo os mais reconhecidos académicos não conseguem explicar na totalidade o que está a acontecer com a Europa, o Euro, e em particular Portugal.

É verdade que nenhuma estrutura ou organização pode viver sistematicamente acima das suas possibilidades, mas será que as respostas que hoje se estão a implementar serão as que menos sofrimento trarão ao povo?

Ponho esta pergunta pois aprendi que o princípio básico da gestão económica é assegurar o bem estar social. Ou seja, entendo isto no sentido de assegurar o máximo de bem estar à maioria da população.

E falando de Portugal, será que este é o caminho que melhor assegura este fim?

Tenho que dizer em justiça dos actuais governantes, que dificilmente alguém aceitaria que se implementassem outras soluções, sobretudo porque lamentavelmente na maioria das escolhas a tomar, não somos nós, povo soberano, que temos o poder de decisão.

Mas olhemos ao que se está a passar.

Gastou-se demais. Estado, empresas e pessoas.

Aprendia eu à meros 8 anos atrás, que o modelo de financiamento ideal para uma empresa era assegurar um rácio de 1 terço de capitais próprios para 2 terços de dívida bancária, pois neste equilíbrio assegurava-se em simultâneo uma base sólida de capitais para a operação da empresa associado a uma alavancagem financeira que permitiria à empresa investir em novas ofertas, novos mercados e ir progressivamente crescendo.

Isto, claro, no pressuposto de uma dinâmica de crescimento. Pois crescimento das empresas gera mais emprego, mais emprego gera mais rendimento disponível, mais rendimento disponível gera mais poupanças para mais investimento e mais consumo para manter a expansão do mercado.

Em resumo, os fundamentos do desenvolvimento económico passam pelo desenvolvimento do consumo, o qual cresce no pressuposto do aumento e distribuição da riquesa por via do emprego.

Hoje observamos um fenómeno em que a riquesa gerada simplesmente está a deixar de ser distribuida dentro do espaço de um estado, em que ela se acumula em produtos e derivados financeiros, nas mãos de uma minoria externa ao estado, que a acumula sem que ela seja reinvestida na geração de mais emprego e mais consumo, e dessa forma continue o ciclo virtuoso do crescimento económico.

Com este fenómeno, gera-se um ciclo em que o crescimento de um determinado estado só é possível perante a geração de dívida, pois o seu consumo (em todos os paises do mundo o objectivo do desenvolvimento económico) terá que ser financiado por aqueles que progressivamente vão extraindo destes países o capital sem que o reinvistam e reproduzam.

Eu esperaria que no processo de crescimento da União Europeia, este facto fosse reconhecido e assumido por todos.

Ouvi de um dos pais fundadores da União Europeia, que o princípio da sua criação e integração de estados como Portugal, era melhorar o nível de vida da generalidade da União, através do uniformizar o nível de vida entre os cidadãos europeus.

Assim, das duas uma:

  • ou o modelo é implementado de raíz de forma a defender e promover o emprego e crescimento das regiões mais deprimidas (como Portugal) - o que quem for intelectualmente honesto tem que reconhecer que não aconteceu, pois os países mais desenvolvidos intencionalmente criaram mecanismos para favorecer o crescimento das suas próprias economias à custa das pequenas economias;
  • ou é assumido que o modelo terá países consumidores e países produtores, e são implementados mecanismos de equilibrio financeiro através da injecção de verbas compensatórias nos países consumidores, pelos países produtores - o que era a assumpção de base dos país fundadores, mas que as actuais gerações de governantes não querem ou não têm a coragem de assumir.
A situação em que vivemos, só pode ser aceite como o interlúdio para um caminho de mais integração na união em que assumidamente um dos dois caminhos acima seja implementado.

Mas, sem saber-mos se efectivamente será para aí que caminharemos, apenas podemos constatar o presente.

E no presente, o que observamos é que face à crise financeira, os bancos reduziram a quantidade de dinheiro a circular na economia. E não há estatísticas que demonstrem o contrario, pois quando falo de economia, faldo daquela que gera a maioria do emprego e do consumo, os quais são a base do bem estar social.

Há claro financiamento para os projectos de expansão internacional de grandes empresas, mas esse dinheiro sendo disponibilizado em Portugal, efectivamente não gera consumo nem emprego significativo em Portugal.

Assim, temos que olhar a economia como a das pequenas empresas e das famílias. E a estes, os bancos têm vindo a fechar a torneira. 

Porque é que isto é motivo de preocupação? Porque associado a isto, muitas empresas que dependem do consumo vêm-se em dificuldades e reduzem as compensações variáveis aos seus funcionários, ou até, em casos extremos, encerram actividade e levam os seus funcionários ao desemprego.

Ora pessoas com menos dinheiro, pessoas desempregadas, pequenas empresas a fechar, gera-se um efeito bola de neve: menos consumo implica menos emprego, o qual implica menos empresas de consumo, o que implica a redução das empresas que vendem as empresas de consumo, e por aí adiante até às empresas que vendem equipamentos... é como se fosse uma máquina gigante de muitas rodas encaixadas umas nas outras a qual está a parar lentamente, e em que a paragem de umas peças apenas significa que outras se lhe seguirão.

As ramificações são inúmeras e incalculáveis. Estamos perante uma daquelas situações em que "o bater das asas de uma borboleta, provoca um tufão no outro lado do mundo".

Esta redução do acesso ao crédito aos particulares e pequenas empresas, foi o prelúdio do que estamos a sentir. Eu pessoalmente notei isso numa data muito específica e que vos posso apontar. Em Maio de 2009, observei uma quebra de receitas nos meus negócios fruto de alterações nas regras de concessão da banca absolutamente claro.

E não há directrizes governamentais que resolvam este problema.

Senão, observem: agora exigem aos bancos rácios de capital mais elevados, ou seja melhores relações entre o dinheiro que têm e o que emprestam. 

Quando este rácio é 100%, se eu tenho 1.000 euros, empresto os mesmos 1.000 euros. Hoje o que se passa é que com 1.000 euros, os bancos emprestam mais de 10.000 euros. É isto que se chama a alavancagem financeira, em que temos um rácio de capital de 10%. Ora os bancos trabalhavam com rácios de capital em alguns casos de 4%, e agora exigem-lhes 9%.

Como se resolve isto? De uma de duas maneiras: ou os donos dos bancos injectam mais dinheiro, ou os bancos reduzem rapidamente o volume de dinheiro que têm emprestado (carteira de crédito).

Hoje, o caminho é óbvio: a redução da carteira de crédito.

Se forem falar com algumas pessoas da banca, eles dizem que não têm culpa, eles querem emprestar, mas as pessoas e as empresas é que não oferecem garantias.

É que o banco só empresta a quem tem algo para dar como garantia. Ou capital, ou um bem de valor.

Voltando às pequenas empresas e familias, se hoje as pequenas empresas e as familias precisam de se endividar, em muitos casos é porque estão a passar dificuldades. Ora se estão a passar dificuldades, não ofereçem segurança aos bancos, pois apresentam um perfil de risco muito elevado.

Mesmo que os bancos mantivessem as regras de classificação de risco, só a evolução da situação económica já afastaria do mercado de crédito uma quantidade enorme de pequenas empresas que à 2 anos atrás eram consideradas boas para crédito.

Fechando esta ideia, todo o sistema se auto-alimenta num caminho de redução cada vez mais acelerada da actividade económica:
  • Menos actividade económica, mais risco nas empresas;
  • Mais risco nas empresas, menos acesso ao capital;
  • Menos acesso ao capital, menos emprego;
  • Menos emprego, menos consumo;
  • Menos consumo, menos actividade ecnómica e assim por diante (estou aqui a simplificar muito, mas creio que dá para entender).
Como é que se para este cíclo vicioso de redução da actividade económica... ou em bom Português, de empobrecimento, falência e fome?

Injectando dinheiro na economia de forma que produza emprego.

Muitos advogam que o caminho é substituir importações por consumo interno, e aumentar as exportações. Mas terá alguém pensado que dezenas de países nas mesmas circunstâncias que Portugal estão a tentar implementar exactamente a mesma receita?

E lembraram-se porventura que enquanto pequeno país, Portugal tem muito pouco a oferecer a países grandes consumidores pois os emergentes já perceberam que o poder económico está onde está o consumo, e todos se estão a fechar para minimizar a entrada de produtos de fornecedores extra-nacionais?

Esta foi uma outra das razões de crescimento da União Europeia. Criar um mercado integrado que tivesse poder negocial junto dos grandes mercados globais como os EUA, Brasil, Russia, Índia e China.

A solução? Em minha humilde opinião, emagrecer violentamente o estado o qual tem sido também um consumidor de recursos não reprodutivos, libertando capital para as pequenas empresas e famílias.

"Pois, isso é o que todos dizem! E mais detalhes, não há?"

Vou tentar:
  • Um dos caminhos seria impedir os bancos privados de financiar as entidades públicas, e assegurar o financiamento destas pelo banco central o qual terá o poder de controlo sob os níveis de endividamento por via da restrição de emissão de mais dívida aos organismos públicos;
  • Como consequência, seria fundamental esse banco central emitir mais moeda de forma a aumentar a disponibilidade de dinheiro;
  • Fruto desse aumento de disponibilidade monetária, libertar os bancos privados a curto prazo de obrigações em termos de rácios de capital, de forma a permitir o aliviar das avaliações de risco e restrições à emissão de crédito;
  • Implementar regulação que obrigue a um rácio equilibrado no funcionamento dos bancos em termos de tipo de empréstimos:
    • Limitar o acesso ao capital para construção (para empresas e privados);
    • Definir um volume de negócio mínimo para equipamentos (se há equipamentos a serem financiados, há empresas a modernizarem-se, a crescer e a gerar empregos);
    • Segmentar as obrigações de volume de negócio em empresas conforme as dimensões das empresas, de forma a assegurar que as verbas disponíveis não são todas sugadas em grandes operações não geradoras de emprego nacional.
  • Em simultâneo com a passagem das dívidas dos países para o banco central, reduzir a carga fiscal sobre as empresas de menor dimensão de forma a que acelerem a geração de emprego e o aumento dos rendimentos dos seus funcionários;
  • Entre as alterações bancárias e estatais, aumentar o rendimento disponível das famílias pois isso fará instantaneamente com que o consumo aumente e a economia começe a recuperar;
  • Por fim, colocar limitações rígidas às tarifas praticadas nos sectores não produtivos (tipicamente denominados de utilities), por via de um benchmark à escala europeia que uniformize os custos de contexto e normalize os rendimentos dessas empresas para que elas não se comportem como um sorvedouro de dinheiros nos países onde são monopolistas, dinheiro esse que muitas vezes serve para alimentar favores de políticos e a riquesa de uma minoria conivente e silenciosa que tudo faz por manter a situação: os accionistas, os gestores de todo dessas organizações e os políticos por elas sustentados (esta é infelizmente a situação em diversas empresas no sector das utilities em Portugal).
Mas tudo isto, estando integrado na união europeia, não depende da vontade dos governantes deste país.

Pelo que, imaginando que eu estaria no lugar deles, e desejava fazer o que acima refiro, na situação actual teria que fazer o que me mandam e ser um bom aluno, de forma a ganhar moral para influenciar as decisões e encostar à parede os países que enriqueceram à custa do nosso endividamento, de forma a assumirem que deixaram a situação chegar até aqui pois ganharam muito com ela, e que agora é hora de regressar ao equilibrio.

Mas, como acima dizia, não sabendo o que vai nas ideias dos nossos governantes, só posso contatar o que observo hoje, e o que vejo é um país a afundar-se de dia para dia.

O que vejo é todos os dias haver mais um amigo ou familiar que é empurrado para o desemprego, e que a cada semana vejo mais um profissional competente a sair do país à procura de novas oportunidades, e que a cada mês é mais um amigo que me diz estar tão bem no país para onde emigrou que não pondera a hipótese de voltar a viver em Portugal, que este será apenas o país para férias curtas de visita à família.

Em paralelo, vejo aumentar o rácio de quadros pouco qualificados que ficam no país, que cada vez mais são os Portugueses que querem viver sem esforço encostados ao estado, pois são os pouco qualificados e os acomodados que vão ficando, pois os ambiciosos e competentes não encontram dificuldades em ter sucesso.

E assim vejo também cada vez mais obscuro o futuro do país, pois serão esses pouco qualificados e esses acomodados que cada vez mais terão o poder do voto, e a capacidade de escolher os nossos futuros governantes, e naturalmente esolherão aqueles que lhes assegurarem de forma fácil aquilo que esses indivíduos não conseguiram por seu mérito.

Lamentavelmente vejo-me num contexto em que entre muitos dos meus amigos e conhecidos, permanecer em Portugal começa a ser associado a insucesso, e me vejo empurrado a abdicar de vez desta nação, e também eu procurar o meu estaço noutras paragens em que o meu talento e esforço sejam devidamente compensados e me permitam uma vida digna.

Entro portanto 2012 expectante. Dos cenários que acima aponto, qual se realizará? Encontrará Portugal este ano um rumo de melhoria da vida de quem com mérito próprio ainda cá quer viver, ou fecharei o ano também eu com os pés no estrangeiro?

Voto por Portugal, mas não nego nenhum cenário, nem entro mais em fundamentalismos nacionalistas.

Que este ano seja o que Deus quiser!

Votos de um 2012 cheio de saúde para todos, pois quem tem saúde, pode tudo!

1 abraço,
Angatú

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Principais falhas nos franchisadores

Falava um dia destes com um colega, e perguntava-me ele: mas porque é que estás tão decepcionado com os Franchisadores em Portugal?

Deixou-me a pensar, e deixo-vos aqui a minha reflexão.

Não estou decepcionado com todos os franchisadores em Portugal, mas infelizmente constato que apenas uma minoria trabalha bem. Eles existem, são geridos por pessoas honestas, éticas, profissionais e competentes. Mas são de facto uma minoria.

Daí, como em todo, as generalizações tendem a basear-se na experiência com a maioria.

E na maioria dos casos, tenho observado falhas que me fazem questionar os méritos do franchising como um modelo de desenvolvimento para uma área de negócio em Portugal.

Expectativa 1: que o franchisador por já ter experiência, tenha uma pool de fornecedores organizados e me optimize os custos de arranque (obras, equipamento etc).

Realidade: para muitos franchisadores, ajudar alguém a abrir um negócio, é também uma oportunidade de negócio. Muitos aproveitam para colocar margens generosas naquilo que vendem, ou para negociar contrapartidas com os fornecedores que certificam ou recomendam. ´

Esta situação faz com que - nos casos que conheço - saia mais caro a instalação de um negócio em franchising, do que fazer a instalação através do processo normal de busca e negociação com fornecedores. Este aspecto provoca logo que o franchisado arranque com um peso de dívida bancária e logo "custos" mensais superiores a concorrentes seus desvinculados de franchisings.

Isto é mais relevante nos pequenos negócios de bairro, em que muitas vezes mais importante que a marca, é a localização e qualidade de atendimento. É mais relevante nos pequenos negócios de bairro, pois muitas vezes as pessoas iniciam os seus negócios adquirindo equipamentos em segunda mão para reduzir os custos de arranque, ou relegam para uma segunda fase investimentos em obras que não são absolutamente essenciais.

O franchising, após os primeiros anos de actividade começam a ficar com uma sindrome de grandeza que os leva a sugerir a novos franchisados começar logo a pensar em grande, o que muitas vezes pode ser o início do fim.

Por este motivo, nos casos que tenho vindo a conheçer, ser franchisado implica logo desde início um arranque menos favorável do que sendo um operador independente.

Expectativa 2: o franchisador, por já ter experiência, ajudará a optimizar os custos operacionais para maximizar a margem (custos de publicidade, de merchandizing, de recursos humanos, etc).

Realidade: as maiores preocupações do franchisador andarão em temas como a optimização da reputação da marca, a optimização da sua (do franchisador) rentabilidade.

Ou seja, é facil levar um franchisado a gastar demais, quer seja para lhe adquirir mais (ao franchisador) e assim o próprio franchisador melhorar os seus lucros, quer seja por o franchisador não ter grandes preocupações em ajudar a rede a reduzir custos tirando poroveito de possíveis economias de escala, ou porque simplesmente se está nas tintas para isso - não faz parte das sua preocupações, ou porque tem acordado contrapartidas com os fornecedores para si próprio contra a despesa realizada pelos franchisados (por x mil euros de despesa na rede, dás-me y euros de desconto nos produtos ou serviços contratados por mim).

Para além dos aspectos já referidos, podemos simplesmente estar perante o facto de o franchisador não ser competente nesta matéria. Afinal os franchisadores são compostos e liderados por pessoas, humanos como todos os restantes que habitam na terra, e não são franchisadores simplesmente porque são mais inteligentes ou competentes, muitas vezes são porque estavam no sítio certo na hora certa, porque tinham a capacidade financeira para agarrar uma determinada oportunidade, ou porque calharam a conhecer as pessoas certas. Pelo que podem também ser os maiores incompetentes em diversas matérias, e com isto arrastar os franchisados para um caminho sem futuro.

Conforme já referí em posts anteriores, não considero que o franchising seja o melhor modelo para se ter acesso ao capital, trabalho ou conhecimento (ver post Negócios em Franchising: Bom? Máu? Para quem?), pelo que não será a melhor opção para pessoas empreendedoras verdadeiramente competitivas e empenhadas em desenvolver projectos sustentáveis a médio, longo prazo.

Expectativa 3: um franchisador terá mais capacidade de inovar e adaptar o modelo de negócio as novas realidades do que eu individualmente.

Realidade: os fundamentos do planeamento estratégico não são nem ensinados de uma forma sistemática nas faculdades de gestão em Portugal, nem do conhecimento da grande maioria dos profissionais que tenho encontrado nas pequenas e médias empresas Portuguesas.

Felizmente, uma cada vez maior internacionalização dos nossos quadros de todo, a par da integração em multinacionais de referência, faz com que um número significativo de Portuguêses começe a adquirir competências de planeamento estratégico, ao mais alto nível internacional.

Não são estas as pessoas que encontrei na maioria dos franchisadores Portugueses.

Assim, algumas ideias base como ter informação de gestão fiável, ouvir os clientes de forma sistemática e regular, avaliar satisfação com os serviços, estudar de forma séria a emergência ou evolução dos concorrentes, e a busca de novas oportunidades de negócio como parte integrante da dinâmica organizacional, sendo algo relativamente óbvio para muitos quadros de multinacionais, não faz sequer parte das preocupações básicas da generalidade dos franchisadores, e aqueles que têm estas preocupações nem fazem ideia de por onde começar.

Há alguns que procuram consultores para os ajudar nestes e outros temas. Consultores "especializados em franchising", mas a realidade é que muitos destes consultores trazem competências em aspectos muito operacionais, faltando-lhes claramente a componente estratégica que é aquela que dá sustentabilidade a médio longo prazo a um projecto.

Assim, um empreendedor que tenha em si aquele conhecimento que nos coloca numa observação constante do mundo, dos comportamentos, das tendências, provavelmente terá uma capacidade de imprimir inovação no seu negócio a um nível que muitos franchisadores não conseguirão.

Conheço diversos casos em que pessoas deste perfil acabam por ser motores de inovação em redes de franquia, numa situação em que das duas uma: ou o franchisador viu aqui uma oportunidade e deu espaço a estas pessoas para partilhar o seu valor com a rede, ou o franchisador viu estas pessoas como uma ameaça ao seu poder e ascendente sobre os franchisados e as marginalizou e silenciou de modo a não comprometer a visão falsa de que o franchisador "sabe tudo".

Por fim, a importância desproporcionada (quase fundamentalista) que se dá à consistência (todas as unidades no franchising são clones) acaba completamente com qualquer capacidade do franchisado inovar, ou seja, de se adaptar caso o franchisador escolha um rumo insustentável, ou caso a sua geografia específica apresente oportunidades e desafios diferentes da generalidade das geografias onde o franchisador realiza as suas provas de conceito.

Também, o crescimento da rede coloca desafios tais em termos de consistência, que a partir do momento em que a rede passa o pulo inicial de crescimento e o franchisador começa a ficar assoberbado com as novas aberturas, a inovação simplesmente morre, e todo o foco é replicar um modelo que até já pode estar ultrapassado.

Em conclusão, não é no franchising que se conseguem os melhores níveis de inovação.


Assim, de facto estou decepcionado com o franchising na medida em que os casos que tenho vindo a conheçer são de vendedores que têm como grande mérito vender uma ideia a alguém, muitas vezes desprovidos das capacidades necessárias para a executar.

Eu aprendi que o sucesso empresarial vem de uma premissa fundamental: cumprir com o que se promete. Se prometo vender os melhores pasteis de bacalhau do universo, tenho que o cumprir.

Eu não me revejo num modelo em que criamos uma marca com um grafismo extraordinário, um monte de vendedores entusiastas, uma loja bonita e numa boa lcalização, e que atraímos as pessoas a comprar os melhores pasteis de bacalhau, e nem sabemos como os fazer, e muitas vezes os pasteis nem levam bacalhau.

Para mim isto é vender a banha da cobra. É um negócio circunstancial de ocasião, para grandes ganhos a curto prazo sustentado em investimentos mínimos, para expremer enquanto der e depois passar adiante.

Também é uma forma de se ganhar dinheiro, mas simplesmente é uma forma que não é compatível com a minha base de valores, aspirações e ideia de sucesso.

Esta realidade de vendas à pressão, descreve muitos dos franchisings existentes, e por isso estou decepcionado.

NOTA: este post aborda sobretudo os franchisings fundamentalmente de serviços, pois no caso dos franchisings de produtos temos outro tipo de realidades, que já abordei parcialmente em posts anteriores.

1 abraço,
Angatú Guarini (pseudónimo)